Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso
 
 
 
// TESES E DISSERTAÇÕES
TESES DE DOUTORADO // TESES EM 2022
ALEXANDRE ENRIQUE LEITÃO
“Irmãos, Romanos, Conterrâneos”: Shakespeare e a Opinião Pública na peça Júlio César
Orientador: Muniz Sodré de Araújo Cabral
Resumo: Esta pesquisa visa analisar a peça Júlio César, de William Shakespeare, à luz dos estudos e pesquisas referentes à opinião pública. Nesse sentido, iremos produzir um resumo histórico do conceito de opinião pública, indo do século XVI e XVII, com as teorias de Hobbes, até o início do século XXI, averiguando as diferentes teorias e correntes, mas principalmente a divisão entre uma linha crítica, associada ao questionamento do papel dos meios de comunicação na conformação da opinião pública, e uma outra, representada por Jean-Jacques Rousseau, que a apresenta como expressão de uma vontade geral. Iremos ainda realizar um levantamento histórico e bibliográfico acerca do Renascimento
europeu e da Inglaterra elizabetana. Veremos ainda a história do teatro inglês e como William Shakespeare e sua obra nele se inseria. Após isto, iremos realizar uma análise da peça Júlio César em si, averiguando o papel da mídia e da opinião pública na trama. Para tanto, iremos nos basear tanto nos autores que teremos analisado, referentes à opinião pública, como Walter Lippmann e Jean-Gabriel de Tarde, quanto naqueles que se debruçaram sobre a peça Júlio César e a dramaturgia shakespeareana, como Marjorie Garber, Emma Smith e William Soares dos Santos. Por fim, averiguaremos no que consiste a visão da peça acerca da opinião pública, e se dela é possível extrair um quadro teórico e chave epistemológica que possamos utilizar para analisar fenômenos comunicacionais e midiáticos contemporâneos.
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ANA BEATRIZ RANGEL PESSANHA DA SILVA
Tecnologias do Sagrado: crença e descrença nos fins da modernidade
Orientadora: Maria Cristina Franco Ferraz
Resumo: Este trabalho busca compreender a crise de confiança contemporânea em instituições que marcaram a construção do imaginário da sociedade ocidental – ciência, razão, democracia, meios de comunicação de massa – a partir da investigação filosófica do dualismo crença versus razão. O modo de organização social contemporâneo, atravessado pelas tecnologias de comunicação em rede, é frequentemente apontado senão como causa, como gatilho para um cenário de fragmentação discursiva, terreno fértil para o engano generalizado, crenças fanáticas, teorias conspiratórias, fake news e negacionismos de toda espécie, que ameaçam a estabilidade das instituições. Nosso trabalho então se lança à compreensão da atuação dos espectros e ruínas da modernidade na crise atual, pensando como a categoria paradigmática da crença atua na reorganização das relações entre o conhecimento, a técnica, a política e a religiosidade na sociedade atual.
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ANA CLARA GOMES COSTA
Micropolíticas de Dandaras: a comunicação como tática de existências de mulheres negras
Orientadora: Suzy dos Santos
Resumo: Essa tese aborda sobre as táticas que mulheres negras empenham nos seus cotidianos para superarem condições estruturais de opressões intercruzadas que dificultam suas vidas e sua ascensão social. Por meio do pôr em comum, dos processos comunicativos entre si, mulheres negras sempre trocaram saberes e táticas para transgredirem a condições de subalternização outorgadas por uma macropolítica que solapa nossas subjetividades e nossas múltiplas formas de existências. Desde a travessia do Atlântico, foram as trocas comunicativas e as ações de cuidado entre nós mesmas, ou seja, nossas micropolíticas, que abriram fissuras, forjando soluções colaborativas para conquistarmos espaços e chegarmos ao hoje. A perspectiva defendida nesses escritos é de que mulheres negras fazem economia política pela comunicação de maneira orgânica e que cada uma provoca movimentos no seu entorno com suas táticas de existência e transgressão. A análise de micropolíticas foi feita a partir dos procedimentos metodológicos da etnografia e da autoetnografia junto a integrantes da ONG Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, da cidade de Goiânia, estado de Goiás, coletivo do qual faço parte. Foi possível perceber, nos relatos de Dandaras, experiência comuns de violências, mas sobretudo o fato de que são as transgressões e as micropolíticas que apontam para um comum entre mulheres negras. Nesse comum, que se refere às micropolíticas, a figura política de ialodês exerce um papel fundamental no levante de mulheres e no fortalecimento de suas subjetividades. As micropolíticas de Dandaras versam, portanto, sobre as táticas de uma coletividade de mulheres negras afirmando suas múltiplas formas de existências.
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ANNA CAROLINA FRANCO BENTES
Da Madison Avenue ao Vale do Silício: ciências comportamentais do engajamento, tecnologias de influência e economia da atenção
Orientadora: Fernanda Glória Bruno
Resumo: Partindo do caso paradigmático envolvendo a consultoria de marketing político Cambridge Analytica e o Facebook, buscamos compreender o que chamamos de técnicas de influência digital para descrever as formas de governo sutis e imperceptíveis voltadas para o controle psicológico em plataformas de publicidade. Visando a entender as relações entre o mercado das corporações de tecnologia, ciência e sociedade, propomos uma genealogia das tecnologias de influência construída em torno de dois eixos centrais de análise. O primeiro envolve compreender, no presente, a ciência tecnológica e psicológica mobilizada para influenciar comportamentos através de mecanismos digitais. Uma das hipóteses principais desta tese é a de que a matriz epistemológica das ciências comportamentais e suas raízes na psicologia behaviorista vêm se tornando modelo privilegiado quando se trata de influenciar comportamentos em plataformas de publicidade, porque ela oferece instrumentos ideais para atender aos interesses por um imperativo do engajamento, articulando as engrenagens do capitalismo de vigilância e da economia da atenção. Deste modo, compreendemos que essas ciências comportamentais do engajamento estão nas bases de uma nova geração de técnicas de influência digital que empregam formas silenciosas e discretas de direcionar a atenção e modular os comportamentos através de princípios de condicionamento. Para este eixo, realizamos um levantamento de literatura científica na base de dados Scopus e geramos mapas bibliométricos usando o software VOSViewer, no qual evidenciamos as atualizações do pensamento behaviorista em outras áreas de saberes comportamentais e sua intersecção com as tecnologias digitais contemporâneas. Além disso, realizamos entrevistas com alguns especialistas para aprofundarmos aspectos conceituais e históricos das ciências comportamentais e tecnológicas. O segundo eixo de análise busca compreender as principais rupturas e continuidades históricas das tecnologias de influência digital que se encontram, sobretudo, no campo de alianças entre a psicologia, a publicidade e os meios de comunicação. Nossa principal hipótese é a de que houve um deslocamento do papel da publicidade no capitalismo de vigilância, envolvendo transformações significativas das práticas publicitárias e na ciência psicológica que a embasa. Enquanto ao longo do século XX as tecnologias de influência eram marcadas pela atuação das agências de publicidade típicas da Madison Avenue para produzir conteúdos publicitários, a partir do século XXI, predominam as operações das plataformas de publicidade do Vale do Silício que investem no controle fino do ambiente, formando um imenso laboratório comportamental. Realizamos uma pesquisa usando o acervo de fontes primárias Adam Mathew Digital (AMD), evidenciando as transformações nas relações entre psicologia, publicidade e as formas de gestão midiática da atenção. Nesse deslocamento, buscamos mostrar como as técnicas de influência que antes visavam interpretar a psicologia dos consumidores para motivá-los passam a investir em mecanismos de gestão algorítmica da atenção, voltados para prever ações e interesses a fim de intervir na arquitetura de escolhas e modificar os comportamentos de usuários. Com um olhar crítico, concluímos a tese com reflexões sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade a partir de uma análise sobre as transformações do poder-saber e os processos de subjetivação contemporâneos.
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BRUNA TÁVORA DE SOUSA MARTINS
Nossa Rebeldia Não Será em Vão: trabalho, comunicação e linguagem na práxis do movimento dos pequenos agricultores
Orientador: Marcos Dantas Loureiro
Resumo: O objetivo geral da tese é analisar e descrever o trabalho de comunicação, seus produtos e processos observados na práxis política, realizada no contexto do Sistema de Abastecimento Alimentar Popular (SAAP) do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no estado do Rio de Janeiro. O SAAP é um empreendimento de economia popular que está situado no setor de cultura e alimentos. Ele é desenvolvido por meio de cinco experiências político-econômicas, e que também funcionam como artefatos e tecnologias de comunicação: o espaço Raízes do Brasil, a Cesta Camponesa de Alimentos Saudáveis, a campanha Mutirão Contra a Fome, a Feira Camponesa e a Escola Agroecológica Ana Primavesi. A hipótese de trabalho é que o SAAP/MPA é um artefato de comunicação que media a interação do MPA com seus diversos grupos de diálogo, permitindo a organização de um sistema de signos que contém formas do conteúdo e formas da expressão que visam fortificar sua hegemonia política e social. Para compreender a temática aqui proposta, na parte I, apresento um referencial teóricometodológico acerca da ontogênese do ser social em sua relação com a comunicação, o trabalho e a linguagem. Faço isso a partir de autores do materialismo histórico e dialético, com ênfase na abordagem semiótica da comunicação. Aqui, um dos objetivos específicos do estudo é contribuir com um enriquecimento metodológico do campo da comunicação, permitindo enfatizar a categoria trabalho de comunicação como objeto do estudo. Para concluir a parte I, descrevo o trabalho de comunicação que é requerido na formalização hegemônica do conteúdo estético (valores de uso e consumo), técnico-científico (aprendizagens práticas para o trabalho) e ético-político (visões de mundo e consenso) do capital. Na parte II, relaciono a análise com a estratégia da Revolução Verde e do agronegócio no caso brasileiro, descrevendo o trabalho de comunicação que logrou constituir monoculturas da mente e do solo. Logo após, observo os tensionamentos e as contradições desse contexto. Por fim, apresento a experiência do SAAP/MPA como antagônica a tal modelo. Dentre os resultados apresentados, descrevo o trabalho de comunicação da equipe do SAAP/MPA e seus produtos, tais como os principais signos, enunciados, processos, técnicas e artefatos utilizados. Para fins de análise, eles estão agrupados na exposição das três formas do conteúdo social. Os resultados apontam que o conteúdo ético-político está ligado ao enunciado que afirma o campesinato como classe social, o conteúdo estético, tem ênfase na organização do valor de uso e do consumo dos alimentos comercializados, e o conteúdo técnico-científico está relacionado às aprendizagens técnicocientíficas para o desenvolvimento do trabalho. As conclusões indicam que o trabalho de comunicação realizado no SAAP organiza um sistema de signos que permite disputar a hegemonia e emular uma forma econômica subsumida à finalidade do seu programa político, intitulado Plano Camponês por Soberania Alimentar e Poder Popular. Dentre seus desafios, destaco o alcance reduzido da experiência, o aspecto rotativo de processos de trabalho e trabalhadores e a necessidade de ampliar a prescrição do trabalho de comunicação. Em uma perspectiva macro-analítica, os desafios estão ligados à subsunção do alimento ao signo da mercadoria, à exploração do trabalho no contexto da acumulação de capital, e a hegemonia política, econômica e midiática das empresas capitalistas do setor que desenvolvem um intenso trabalho de comunicação produtor de monoculturas da mente e do solo.
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CARLOS FEDERICO BUONFIGLIO DOWLING
Kine Data_Cinemas Dados: por uma imagem cosmotécnica
Orientadora: Ivana Bentes Oliveira
Resumo: A presente tese pretende articular alguns conceitos basilares que circundam a imagem técnica audiovisual, em seus respectivos e distintos processos de produção e fruição, especificamente a partir das ideias de Real, Virtual e Simulacro, como instrumental analítico para processos contemporâneos do Cinema de Realidade Virtual. Estabelece como marco central de análise o processo de criação e desenvolvimento da obra em Cinema de Realidade Virtual A ESCRITA DO DEUS (2022). Visa, assim, estabelecer as trilhas condutoras de uma pesquisa-criação, analisando conceitos sobre a técnica e tecnologias aplicados à linguagem audiovisual, lastreadas em algumas linhas teóricas dos estudos entre as possíveis relações estabelecidas entre a tecnologia, a comunicação e as artes, com especial interesse em coetâneos estudos do filósofo honconguês Yuk Hui (2021), buscando aplicar o seu conceito de Cosmotécnica ao campo dos estudos semióticos e da imagem, assim, também, como vários conceitos que o antecedem, como os propostos por Gilbert Simondon (2020); Giles Deleuze (1990;2003); Donna Haraway (1985); além de outras destacadas teorias em articulações transversais. Apresenta, para tanto, as ideias de ficções epistêmicas e narrativas alagmáticas, e alguns outros conceitos derivados, orbitalmente articulados para serem aplicados aos estudos de processos de criação audiovisual baseados de forma híbrida em sua escrita computacional e numa programação dramático-ficcional, tendo como foco de interesse prioritário as tecnologias cinematográficas de imersão, interação e Inteligência Artificial (IA), estereoscópicas e digitalmente expandidas.
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FABIANO THOMAZ LACOMBE
Carnavais dos Subúrbios Cariocas: blocos de rua e reexistências
Orientador: Micael Maiolino Herschmann
Resumo: O presente trabalho analisa Blocos de rua carnavalescos nos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro, suas sociabilidades e suas práticas dissensuais. Além de uma historicização do carnaval de rua, com enfoque nessas áreas citadinas, é realizada uma cartografia da atuação de alguns grupos em atividade no início do século XXI: Cacique de Ramos, Loucura Suburbana e Charanga Talismã. Nota-se que esses Blocos, frente às urgências de seus tempos, articulam diferentes projetos de reexistência. Os impactos diretos e indiretos das territorialidades sônico-musicais geradas por esses grupos são avaliados – demarcando o que há de comum e de dissemelhante entre eles e ainda estabelecendo comparações com outros grupos carnavalescos – e relacionados a diferentes construções de imaginários ligados aos subúrbios do Rio de Janeiro. Destacam-se o acionamento de noções de tradição (sobretudo ligada ao samba) e a interculturalidade das articulações entre arte e política que denominamos aqui de artivismo. Ressalta-se, ao fim, um devir-suburbano que atravessa a cidade, impactando-a.
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JULIO CESAR ALCÂNTARA DOS SANTOS SANCHES DE SOUSA
Convocações Biopolíticas e Imperativos da Boa Forma: corpo, saúde e mídia no Brasil (1930 - 2000)
Orientador: Igor Sacramento
Resumo: Na contemporaneidade, o corpo é um dos artefatos que mais instiga o pensamento. Seja pela diversidade de interpretações que ele provoca nas artes, ciências e mídias, assim como pela apropriação dele por diferentes códigos, linguagens e tecnologias culturais. Nesta pesquisa, busco compreender como surgiu a ideia de “corpo em boa forma” nas mídias brasileiras. Trata- se, sobretudo, de uma análise dos indícios deixados em discursos, imagens e representações midiáticas das práticas para alcançar a boa forma física, promovidas em revistas e jornais de grande circulação do Brasil. A partir do método indicial da microhistória, analiso os vestígios dos discursos e representações midiáticas sobre o corpo em boa forma no decorrer da segunda metade do século XX. Esta pesquisa parte da ideia de que as mídias produziram e organizaram os sentidos sobre o “corpo em boa forma”, evidenciando a transição das relações de poder moderno para as formas de poder contemporâneo ensejados pelo bios midiático, conceito que discorre sobre a centralidade da mídia na organização e gerenciamento do tecido social. Diante disso, tratei de produzir um diagrama desse fenômeno, elencando seus desdobramentos em produções que associavam: 1) Cirurgias plásticas e a boa forma; 2) Dietas e as obsessões do “corpo perfeito”; 3) Atividades físicas, esportivas e os imperativos da boa forma. A partir desses caminhos analíticos, identifiquei um modo de atuação da mídia baseada na convocação biopolítica, sugerindo um investimento incessante no cuidado com a aparência, onde a estetização da saúde aparece como fórmula de governo dos corpos e a definição de boa forma como parâmetro de normalização dos sujeitos. Concluí que a produção midiática sobre a boa forma consolidou um conjunto de prescrições biopolíticas sobre os modos de gerenciamento da imagem do corpo e da aparência, convocando os sujeitos a mobilizarem de modo imperativo determinadas estratégias de moralização das condutas individuais, provocando uma aderência aos estilos de vida saudáveis como norma do final do século XX.
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LENO VERAS DE CARVALHO
Máquinas dos Tempos: museu digital e tecnologias cronográficas
Orientador: Mauricio Lissovsky
Coorientadora: Marialva Carlos Barbosa
Resumo: Esta pesquisa, experimental e exploratória, investiga a emergência de novas formas de representação temporal empreendidas por instituições de história e memória - sobretudo a partir do fenômeno da transformação digital do patrimônio científico e cultural - com vistas a estabelecer inter-relações possíveis entre a ascensão das práticas de visualização de metadados de coleções informacionalizadas (de arquivos, bibliotecas e museus) e o surgimento de tecnologias cronográficas inovadoras na contemporaneidade.
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LEONARDO SOARES DA SILVA
A Comic Con Experience: uma perspectiva etnográfica
Orientadora: Isabel Siqueira Travancas
Resumo: Esta tese é uma etnografia de quatro edições – 2017, 2019, 2020 e 2021 – do evento de cultura pop Comic Con Experience (CCXP). Apesar de ter origem em inquietações relativas às experiências de consumo, a pesquisa se desenvolveu a partir da identificação, nesta comic con, do conceito de consumo de experiência abordado no artigo “‘Consumo de experiência’ e ‘experiência de consumo’: uma dimensão conceitual” (2015) de Claudia Pereira, Tatiana Siciliano e Everardo Rocha. Através deste conceito, foi possível entender que mais do que o consumo, as experiências do evento estão relacionadas ao reconhecimento de elementos oriundos de narrativas da cultura pop encontradas em filmes, séries, quadrinhos, livros e games. Como estas referências produziam reações simultâneas nos participantes durante suas atividades e atrações, foi possível afirmar que havia, no evento, a instauração de um comum, como abordado no livro "A Ciência do comum: notas sobre o método comunicacional" (2014) de Muniz Sodré. Deste modo, pautada nas reflexões do autor, a tese busca analisar como a cultura pop, território simbólico comum aos participantes da Comic Con Experience e anterior ao evento, constrói os vínculos que não apenas produzem as experiências, mas que também permitem que elas sejam partilhadas durante seu consumo. Através da observação participante e da aplicação de entrevistas abertas e em profundidade, esta etnografia, baseada na perspectiva dialógica de James Clifford e orientada pelo método pensamento de Janice Caiafa, permite afirmar que a cultura pop constitui uma anterioridade afetiva concatenada durante a comic con por um imaginário que, compartilhado pelos participantes, organiza o ordenamento simbólico do evento e faz com que esta cultura instaure o comum responsável por um acordo tácito da suspensão voluntária da descrença, pelo qual estes participantes nele imergem coletivamente e consomem os aspectos lúdicos, mágicos e imaginados gerados pelo fluxo contínuo de experiências durante a fruição promovida pela Comic Con Experience.
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NICHOLAS DE ANDUEZA SINEIRO
O Corpo que Volta: fotogenia e biopolítica em filmes de arquivo
Orientadora: Consuelo da Luz Lins
Coorientadora: Myriam Tsikounas
Resumo: Esta tese investiga filmes de arquivo que retomam imagens originalmente produzidas por sistemas ditatoriais, nomeadamente, pela ditadura militar brasileira de 1964, pela ditadura salazarista portuguesa e pela ditadura cambojana do Khmer Vermelho. Ao recontextualizarem cinematograficamente esses arquivos, os filmes aqui analisados transformam o estatuto das imagens: elas deixam de funcionar sob a lógica do controle fechado e autoritário e passam a existir em um ambiente de aberturas e possibilidades estéticas, éticas e históricas. Para descrever essa mudança no regime de imagens, propõe-se a noção de fotogenia, trabalhada por Jean Epstein no início do século XX. Assim, se, por um lado, há um regime biopolítico que funda os registros produzidos dentro de sistemas autoritários de poder, por outro, há o elemento fotogênico, que habita silenciosamente esses registros. Este último pode ser liberado em alto e bom som a partir de múltiplos procedimentos cinematográficos de retomada que vão contra o catálogo policial, formulando uma espécie de anti-catálogo. São procedimentos como a narração, a desaceleração, o reenquadramento, a mise-en-scène, a montagem etc. Ao mobilizar as imagens e enxergar no movimento uma possibilidade animista, a abordagem fotogênica (re)ativa os corpos em suas potências e gestos indecifráveis, em seus testemunhos vivos, expandindo-os para além do cativeiro da imagem biopolítica. Revisitadas e retrabalhadas, essas imagens de arquivo se tornam capazes de responder ao olhar dos espectadores com seu próprio olhar, atravessando o tempo e se fazendo presentes no aqui e agora da experiência fílmica – como o relâmpago nas teses de Walter Benjamin sobre a história. É aí que o corpo volta: quando o meu próprio corpo é inteiramente afetado pelo do outro, quando o corpo do outro dança em mim, materializando-se no mais-que-aqui e mais-que-agora da minha carne cinéfila, que já não é mais só minha.
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NICOLE SANCHOTENE FREIRE DA COSTA
Narrar a Experiência, Revelar o Verdadeiro? Testemunho, representação e verdade na cultura contemporânea
Orientador: Paulo Roberto Gibaldi Vaz
Resumo: Esta tese busca analisar como determinadas práticas políticas e terapêuticas contemporâneas orientam-se pela narrativa em primeira pessoa, destacando a experiência do indivíduo comum a fim de mobilizar em torno de uma causa, gerar identificação, criar grupos. Neste sentido, interroga-se a cultura contemporânea compreendendo a generalização da prática do testemunho como sintoma. A discussão parte de um questionamento quanto à valorização do autobiográfico, sua midiatização e a popularização dos relatos pessoais no espaço público como forma de criar sociabilidades, engajar ação política e promover práticas terapêuticas. A proposta desta pesquisa é discutir o testemunho não como mero relato autobiográfico, mas como uma forma de discurso diretamente articulada a outras categorias disputadas em nossa cultura, notadamente as de identidade, vítima e trauma. Além disso, o argumento caracteriza o testemunho como parte da disputa pela verdade na cultura contemporânea: o discurso de um indivíduo comum passa a ser visto como evidência do verdadeiro, pois fundamentado na experiência – sobretudo nos casos de experiência de sofrimento. Essa forma de conhecimento particular, fundada na autoridade da experiência, vai estar articulada à demanda de autorrepresentação e a recusa das representações feitas por terceiros, vistas como instrumento de dominação e opressão. A pesquisa parte do pressuposto de que a leitura da realidade, ou a experiência, depende fundamentalmente dos discursos que são construídos sobre ela, das categorias de pensamento disponíveis para sujeitos de uma determinada cultura, num determinado momento da história. Assim, a tese propõe analisar o testemunho enquanto sistema discursivo historicamente determinado, capaz de produzir subjetividade e participar na construção de sentido das experiências dos indivíduos, indicando uma relação singular com a verdade e o tempo na Pós-Modernidade. Em suma, por meio de uma investigação de caráter genealógico que tem o testemunho como sintoma dessa singularidade histórica da cultura, investiga-se a contemporaneidade a partir dos nexos entre verdade, subjetividade e tempo.
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OTÁVIO CEZARINI ÁVILA
Autoapresentação, Performatividade e Testemunho na Internet: a webdiáspora deslocada para a visibilidade do self migrante
Orientador: Mohammed ElHajji
Resumo: Esta tese se encontra na interseção dos estudos comunicacionais com o fenômeno migratório e tem como objeto de análise os ecossistemas midiáticos de migrantes transnacionais no Brasil. Parte-se inicialmente do formato vlog porque a proposta da pesquisa é oferecer foco a dinâmicas de autoapresentação – portanto, manifestações individualizadas e particularizadas – que questionam, teoricamente, a premissa fundamentalmente comunitária da webdiáspora, dominante nos estudos da área. Seria possível que tais performances voltadas a um self migrante mobilizassem dinâmicas coletivas dessas comunidades? Até chegar a esta questão, o estudo se apropria da etnografia digital em busca de descrever as dinâmicas de uso das plataformas e as experiências da diáspora produzidas, selecionadas e visibilizadas por tais tecnologias. Para que o percurso etnográfico pudesse ter o aprofundamento necessário, optou-se por uma única migrante venezuelana, cujo perfil (ecossistêmico) atua na condução do mapa cognitivo da pesquisa e possibilita a observação de outros perfis que se enquadram no mosaico desenvolvido, também como contribuição metodológica ao campo de estudo. Orbitam e completam o mosaico metodológico três eixos teórico-analíticos (eixo midiático; eixo cultural-migratório; e eixo discursivo) provenientes da junção entre o aprofundamento etnográfico com conceitos teóricos da comunicação (midiatização profunda, bios virtual, reconhecimento midiático) e da migração (hospitalidade, interculturalidade e controle). O último eixo tem adicionalmente um caráter préconclusivo e apresenta elementos de uma webdiáspora venezuelana proporcionada por esses ecossistemas midiáticos formados pelos agora chamados influenciadores diaspóricos, ou seja, indivíduos que apresentam suas vivências na migração e passam a atuar como catalisadores de informações, reconhecidos pelas comunidades receptora e nacional. No entanto, ao tratá-los como [candidatos a] influenciadores digitais, a pesquisa recorre ao ponto crítico da midiatização relacionado à racionalidade neoliberal e à transformação dos aspectos testemunhais apresentados por eles em adequação e polidez à autoctonia. Portanto, a diferença vislumbrada por esse tipo de visibilidade – do self sobre a coletiva – tende a colocar em segundo plano as reivindicações que trazem os contornos políticos das comunidades diaspóricas. Também, por fim, como resultado analítico, a pesquisa apresenta um quadro de tipologias decorrentes dos discursos extraídos do aprofundamento do perfil principal, mas ampliado com o objetivo de mapear, classificar e estabelecer um padrão comparativo desse amplo ecossistema e suas discursividades.
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PLÍNIO JOSÉ DA FRAGA JUNIOR
Segredos da Imprensa: arquivos secretos do Brasil e dos EUA revelam contradições, pressões, parcerias e estratégias do poder e da mídia
Orientador: Muniz Sodré de Araujo Cabral
Esta tese se propõe a mapear as relações secretas entre poderes governamentais e órgãos de comunicação. A busca, a localização e a análise de documentos históricos que fundamentam essa relação cumprem o papel de abrir novas possibilidades de vertentes informativas e interpretativas. O resultado dessa jornada deslinda episódios obscuros em que política e comunicação estavam associadas, seja por interesse comum ou por imposição econômica ou governamental. A partir da investigação de documentos nos arquivos públicos do Brasil e dos Estados Unidos, foi possível inventariar e analisar segredos que regeram as relações entre mídia, Estados e governos, de 1969 a 1990. É demonstrado ainda que havia colaboração e parceria entre os polos, assim como pressão direta e indireta por meio de canais financeiros, ações de censura e de vigilância e de cobrança por afinidade política e ideológica. Tal mapeamento revelou que essas pressões tiveram influência direta no comportamento da corporação jornalística, em seus diversos níveis: da direção editorial e financeira até a redação envolvida diretamente na produção da notícia. Os efeitos das pressões e dos alinhamentos de governos e empresas no produto jornalístico oferecido a leitores e telespectadores por diversas vezes contrapôs-se às proposições de objetividade jornalística, tidas como essenciais na velha política de “separação Igreja e Estado” (imagem corriqueira nas redações para dizer que os interesses políticos, empresariais, financeiros e comerciais devem ser mantidos distantes e delimitados das decisões editoriais jornalísticas). Ao final, foram estabelecidas conexões entre as formas de pressão do passado e as atuais, analisando as contrapartidas de pressão do público a partir da consolidação da sociedade digital, em especial com o papel crescente e preponderante dos algoritmos na produção da notícia.
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RICARDO JOSÉ GONÇALVES DUARTE FILHO
Alianças Espectrais: assombrações e Fantasmas Coloniais
Orientador: Denilson Lopes Silva
Resumo: Partindo da conceitualização de alianças espectrais, a presente tese analisa um grupo de obras brasileiras modernas e contemporâneas que, a partir de um gesto de abertura às assombrações espectrais, evidenciam a perpetuidade de estruturas coloniais e racistas. Através de uma subscrição a temporalidades especulativas, essas obras oferecem momentos de corte no presente e questionam a ideia, moderna e colonial, de uma temporalidade linear e teleológica. Como eixo que perpassa todos os capítulos encontramos questões relacionadas ao colonialismo e possíveis respostas de como lidar com os fantasmas coloniais e com as consequências simbólicas e materiais de um legado ainda vivo. Discuto, portanto, como a ideia central de alianças espectrais possibilita escaparmos de uma leitura de trauma como uma patologia eminentemente individual ao entender esses espectros coloniais como forças coletivas que apontam para a necessidade de mudanças estruturais e sociais no lugar de curas individualizadas.
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Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso - Histórico
REVISTA ECO-PÓS
v. 26 n. 02 (2023)
Visualidades: estéticas, mídias e contemporaneidade
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