Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso
 
 
 
// TESES E DISSERTAÇÕES
DISSERTAÇÕES DE MESTRADO // DISSERTAÇÕES EM 2019
ALLAN CARLOS DOS SANTOS
Os “Memes do MBL” e a Vinculação de Públicos Afetivos em Rede durante o Impeachment de Dilma Rousseff
Orientador: Muniz Sodré de Araujo Cabral
Resumo: Esta dissertação aborda a comunicação como uma ciência voltada para a análise e observação direta da vinculação humana sob a égide das tecnologias de sociabilidade digital, logo, da comunicação como a organização de sentidos partilháveis que afetam o agir comum (SODRÉ, 2002; 2006, 2014, 2017). Tendo isto como base, questiona as funções políticas da estética e linguagem dos memes de Internet para a estratégia de ação “populista liberal” (ROTHBARD, 2013; 2015; 2016) empreendida pelo Movimento Brasil Livre (MBL) durante o processo de deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. Argumenta que o MBL ocupou – de forma planejada e patrocinada pela direita global representada por fundações norte-americanas – um espaço privilegiado no regime de visibilidade tecnicamente ampliado no qual vivemos. A pesquisa observa que os “memes do MBL” operam sob uma espécie de “engenharia reversa sobre a lógica dos memes” (KNOBEL & LANKSHEAR, 2018), ou seja, funcionam como “um corolário negativo da polivocalidade” (MILNER, 2012) viralizando uma visão de mundo monolítica e sentimentos contrários à esquerda petista para a constituição de “públicos afetivos” em rede (PAPACHARISSI, 2015). Neste contexto epistemológico, investe na Análise de Discurso Multimodal Crítica (VAN LEEUWEN, 2004) para investigar como os pôsteres políticos online (CAMPBELL & LEE, 2016) criados e publicados pelo MBL combinaram textos e imagens para colocar em prática uma retórica agressiva, combativa e nocauteadora durante as três votações do impeachment no Congresso Nacional em 2016, fortalecendo crenças sobre o governo petista e instituindo um lugar-comum para a vinculação afetiva de públicos heterogêneos e dispersos.
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ANGÉLICA DE FREITAS FONTELLA MOREIRA
Cenas de Linchamento da Imprensa
Orientadora: Marialva Carlos Barbosa
Resumo: Esta dissertação tem origem em uma série de desconfianças provocadas pela primeira página premiada do Jornal Extra de 8 de julho de 2015: “Do tronco ao poste”, casoemblema desta pesquisa. Nela, uma gravura de Debret de 1815 que retrata a aplicação de um castigo contra um cativo em uma praça pública brasileira é contraposta à cena de um linchamento consumado no Brasil contemporâneo, o assassinato brutal do jovem negro e pobre Cleidenilson Pereira da Silva no Maranhão, acusado de assaltar um bar. Extraímos fundamentalmente dessa primeira página a articulação dos conceitos de “Jornalismo de sensações” (BARBOSA, 2004; MATHEUS, 2006), memória (RICOEUR, 2007; TODOROV, 2000; BARBOSA, 2007b; HALBWACHS, 1990; JOUTARD, 2007; HUYSSEN, 2014; BARBOSA, 2016a), racismo (MUNANGA, 2004; MBEMBE, 2011; SCHWARCZ, 2012; SOUZA, 2017) e narrativa (RICOEUR, 1994, 1995, 1997). Assim, forjamos o objeto de pesquisa “cenas de linchamento da imprensa”, com o objetivo de investigar se haveria uma especificidade narrativa nas notícias sobre os linchamentos. A estrutura metodológica empregada foi concebida a partir da tríplice mimeses de Ricoeur (1994) e os três capítulos são desenvolvidos a partir de cada um dos três mundos que o autor configura para explicar a articulação entre tempo e narrativa: o mundo da produção (prefiguração), o mundo do texto (configuração) e o mundo do leitor (refiguração). Dessa forma, elaboramos a nossa questão central: haveria a captura das notícias sobre linchamentos por um enquadramento (ELLSWORTH, 2001) em um padrão narrativo – conforme a epistemologia do fait divers (DARNTON, 1990) – que reforça parâmetros culturais e de mentalidades associados ao pensamento brasileiro conservador, em especial, no que diz respeito à cor da pele, dado o passado escravocrata do país e a resistência por parte das elites em abordar essa temática? A especificidade fenomenológica do linchamento também é chave de leitura imprescindível: trata-se de conduta fisicamente violenta empregada coletivamente contra alguém que cometeu (ou é suspeito de ter cometido) ação determinada contra pessoa (ou grupo de pessoas) que rompe as regras de um conjunto social, havendo indícios de que a população brasileira, especificamente, lincha para punir e se vingar – uma forma de exclusão e rejeição dos “indesejáveis” (MARTINS, 2015). A partir de reflexões sobre o fenômeno, também observamos a construção de cenários narrativos que também levariam a conformação de ondas de linchamento. O que este trabalho pretende, afinal, é descortinar um potencial padrão narrativo que estruturaria a temática dos linchamentos apresentada pelo “jornalismo de sensações” (BARBOSA, 2004)e no qual o emprego de imagens também contribui. Se os mundos do texto e do leitor estabelecem uma relação dinâmica, como afirma Ricoeur (1994), sendo possível que um afete o outro, existe um padrão narrativo que descortina estruturas violentas da sociedade brasileira, mas que, na essência, acaba reforçando uma visão de mundo que debilita sujeitos sociais como Cleidenilson.
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ARTUR SEIDEL FERNANDES
Por uma Genealogia dos Dispositivos Sonoros: configurações entre a escuta e o corpo na modernidade ocidental
Orientadora: Maria Cristina Franco Ferraz
Resumo: Esta pesquisa desenvolve uma abordagem histórica dos dispositivos sonoros da modernidade ocidental, tendo em vista o delineamento das condições de possibilidade e das diversas reconfigurações que engendraram a emergência da reprodutibilidade técnica do som em fins do século XIX. Recorrendo ao método genealógico elaborado por Friedrich Nietzsche e desenvolvido por autores como Michel Foucault e Jonathan Crary, investiga-se estratégias biopolíticas em que se articulam corpo, espaço, tempo e tecnologias em contextos de apreciação sonora coletiva ou individual. Argumenta-se que uma reconfiguração geral das relações entre corpo e escuta pode ser cartografada a partir da análise de práticas sociais e de campos de investigação científica. O trabalho elabora a teoria da sala de concerto como dispositivo sonoro, explorando abordagens históricas e sociológicas do concerto clássico a partir dos anos 1770. Explora-se os vários contrapontos entre os pressupostos teóricos sobre “escuta”, “sons” e “corpo” da sala de concerto e os pressupostos das tecnologias que pela primeira vez tranduziram e fixaram vibrações sonoras em suporte analógico. Investiga-se a emergência e ascensão da psicologia experimental ao longo do século XIX com Johannes Müller, Herman von Helmholtz, Carl Stumpf, entre outros, assim como tratados de música e harmonia entre os século XVIII e XIX. Dentre as tecnologias de gravação, o texto concentra sua análise no fonautógrafo, inventado em 1857 pelo francês Édouard-Léon Scott. Para tanto recorre às pesquisas de cunho arqueológico (Foucault) de Friedrich Kittler e Jonathan Sterne. Com isso, a pesquisa cobre um conjunto de dispositivos de escuta entre o período de, aproximadamente, 1770 a 1860.
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BIANCA RODRIGUES PINHEIRO
Depressão, Testemunho e Subjetividade: relatos autobiográficos de indivíduos classificados como depressivos na internet
Orientador: Paulo Roberto Gibaldi Vaz
Resumo: Esta pesquisa analisa testemunhos de indivíduos que se classificam como depressivos na internet. A hipótese é que esses testemunhos produzem subjetividade ao possibilitarem a articulação dos denominados depressivos em comunidades de sofredores, onde, a partir de uma linguagem calcada na dimensão privada das emoções, esses sujeitos constituem e fixam uma identidade em torno da depressão, o que se torna possível por conta do caráter crônico da doença. Nesse sentido, utilizando o argumento da linguagem privada de Wittgenstein (1999) e o looping effect de Hacking (1995), esta dissertação argumenta que está emergindo um novo tipo de linguagem pública, baseada nos saberes dos não-especialistas, ou seja, dos indivíduos considerados comuns, que participam ativamente do processo de invenção de pessoas. Essa nova linguagem é característica de um contexto de verdade autorreferenciada e valorização da autoridade da experiência. A partir de uma genealogia da loucura e da doença mental, constata-se o caráter histórico, social e, sobretudo, contingente, desses conceitos. A depressão emerge na contemporaneidade como um modo de ser possibilitado pelos desdobramentos do saber técnico-científico, da moralidade contemporânea e da cultura terapêutica. Como meio privilegiado da articulação entre identidade e depressão aparece o testemunho, narrativa costumeiramente protagonizada por vítimas que narram histórias de superação. Foram analisados dez vídeos publicados no YouTube por indivíduos que se classificam como depressivos e são considerados comuns. Concluímos que a depressão apresenta um conceito elástico, que pode ser adaptado a uma variedade de trajetórias individuais, gerando confusão entre tristeza cotidiana e tristeza patológica e a inflação diagnóstica, facilitando, assim, o autodiagnóstico. A suposta cronicidade da doença forma e fixa identidade, dificultando ou até impossibilitando outras maneiras de encarar o sofrimento e de superá-lo. Além disso, questionamos se a maneira de dar sentido ao sofrimento através da entidade diagnóstica da depressão não estaria causando mais sofrimento por representar o fechamento do futuro.
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CAMILA DAMICO MEDINA
Modulações da Recepção em Exposições de Arte e Tecnologia
Orientadora: Kátia Maciel Toledo
Resumo: Considerando que a organização e o desenho de exposições de artes visuais têm se direcionado para a criação de formas de contextualização e de envolvimento do público, esta dissertação se ocupa do exame sobre como as diferentes formas de mediação constatadas em exposições de arte e tecnologia influenciam na experiência de visitação. Equipamentos e instituições culturais procuram estar cada vez mais sensivelmente integrados à sociedade que lhes rodeia, buscando participar ativamente de suas questões e conflitos através de projetos que promovem a visibilidade de expressões artísticas antes descuidadas. Com isso, as exposições que consideram as linguagens híbridas se inserem em ascendente movimento pela revisão dos modos de gestão e de atendimento ao público.
A produção de projetos expositivos conta com distintas iniciativas responsáveis por conformar as maneiras e posturas próprias para a experiência de interação do público com a arte. A partir do recorte sobre o circuito artístico brasileiro, ao longo da dissertação é interrogado como estes elementos constituintes da realização da exposição disputam modos de perceber e de entrar em contato com as linguagens híbridas. Para tanto, são analisados na primeira seção da pesquisa alguns empreendimentos curatoriais e artísticos do século XX que proporcionaram as condições atuais para desconstrução e investigação de novas formas de relacionamento com o público. É dado enfoque às transformações da prática curatorial resultantes da aplicação transgressiva de inovações técnicas que, portanto, almejavam a consolidação de um campo expandido de atuação da arte. A partir desta análise, são observadas exposições de arte e tecnologia realizadas recentemente através de um trabalho de campo que valoriza a descrição afetiva das experiências como método. Através deste posicionamento diante da dinâmica de visitação, são identificados os diferentes interesses em negociação sobre o lugar do espectador.
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CLARICE SALIBY DE SIMONI
Vida e Morte, Documentário e Ficção: o limiar em Então Morri e Terra Deu Terra Come
Orientadora: Consuelo da Luz Lins
Resumo: Este estudo tem como tema central o fenômeno do afastamento da morte na sociedade ocidental industrializada contemporânea e suas implicações para a representação da morte no cinema documental. Analisamos os documentários brasileiros contemporâneos Então Morri (Bia Lessa e Dany Roland, 2016) e Terra Deu Terra Come (Rodrigo Siqueira, 2010) como caminhos para reflexões acerca de nossa relação com a morte, por serem vozes de resistência à fuga da finitude, na contramão das produções hegemônicas do circuito cinematográfico comercial. Trata-se de filmes cujos conteúdos situam-se no limiar entre a vida e a morte, e cujas formas encontram-se no limiar entre ficção e documentário. Através da linguagem, e não apenas do tema, ambos os filmes nos convidam a entrar nessa zona intersticial. O conceito de limiar, de Walter Benjamin, atravessa a pesquisa e funciona não apenas como potencializador estético das obras, mas também como caminho para rompermos com as dicotomias que impedem de estabelecer uma relação mais fluida com a morte. Outro conceito importante é o de dialogismo, de Mikhail Bakhtin, que serve para pensar os aspectos próprios da linguagem cinematográfica, o diálogo com outras obras e linguagens, bem como a questão da alteridade e da oralidade que pulsa nesses filmes: uma polifonia marginalizada que resiste, impávida, ao discurso instituído. O procedimento metodológico adotado foi o “cubismo teórico”, de Robert Stam, que se vale de diferentes abordagens para lidar com o cinema, através de leituras transversais dos campos da filosofia, antropologia, história, sociologia, psicanálise e teoria do cinema. As obras analisadas se apresentam como uma alternativa à dominante estética da pornografia da morte. Ao contrário do cinema hegemonicamente consumido – que silencia a questão da morte ao representá-la como um espetáculo, de forma ostensiva, agressiva, distante e anônima –, Então Morri e Terra Deu Terra Come buscam uma representação mais intimista da morte. Ambos nos causam estranhamento ao mostrar uma atitude diante da morte tão distinta da urbana ocidental, e terminam por nos suscitar a pergunta: quais são as possibilidades de nos relacionarmos com a morte?
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DANIEL EDGARDO GONÇALVES SALGADO
Vídeo, Autoimagem e Esquizofrenia: produção de si como resistência
Orientadora: Victa de Carvalho Pereira da Silva
Resumo: Partindo da premissa filosófica de autores como Simondon, Deleuze e Guattari, a presente pesquisa procura problematizar o estatuto contemporâneo de produção e consumo da imagem videográfica, que se encontra em um novo contexto marcado pelas mídias digitais, pela profusão de tecnologias de imagem e tela e pela onipresença da internet e das redes sociais no cotidiano capitalista. A partir de um panorama das experimentações artísticas com o vídeo nos anos 60 e 70, traçamos a prática da autoimagem como um movimento performático disruptivo, dotado de certa carga esquizofrênica, que, na atualidade, foi rapidamente incorporado como prática cotidiana, dada a facilidade exponencial de acesso às tecnologias de imagem em larga escala. Ressaltamos a obra de dois artistas, Arca e Death Grips, cujas produções online trabalham com uma autoimagem esquizo que parece provocar rupturas e promover resistências, além de tensionar e atualizar os procedimentos iniciais da videoarte, diante da atual profusão de imagens de si que circulam em abundância nas redes sociais virtuais, muitas vezes repletas de demandas estéticas padronizadas e de certo discurso de perfeição que servem aos movimentos, também esquizofrênicos, do capitalismo. São artistas que fazem uso do recurso da autoimagem para operar cortes e aberturas que complexificam a produção de subjetividade.
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DIEGO MORAIS VIEIRA FRANCO
No Intenso Agora: ensaio sobre o cinema de arquivo
Orientadora: Consuelo da Luz Lins
Resumo: A partir da análise do filme No intenso agora, realizado por João Moreira Salles, o presente trabalho investiga a relação estabelecida entre a tessitura de seu argumento sobre o passado e a rememoração de eventos históricos, através da retomada que o diretor faz de certos eventos marcantes, especialmente do maio de 1968, na França. Realizado com arquivos heterogêneos, familiares e amadores, o filme nos instigou a tecer relações e filiações entre o trabalho de Salles e a vertente documental ensaística europeia, o que nos levou a traçar análises comparativas entre No intenso agora e outros filmes, de Chris Marker e Harun Farocki. Construímos nossa abordagem a partir do cruzamento crítico entre teoria contemporânea do arquivo, do cinema amador e familiar, assim como certas teorias da montagem.
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FRANCISCO MORATORIO DE ARAUJO GOES
Fake News e Pós-verdade: o olhar dos jornalistas
Orientadora: Beatriz Becker
Resumo: Esta pesquisa pretende contribuir para uma definição conceitual menos difusa das fake news na contemporaneidade, a partir dos olhares dos jornalistas sobre este fenômeno. Assim, integrando a reflexão crítica à experiência empírica, busca-se uma compreensão mais aprofundada das fake news, por meio de uma revisão bibliográfica e de entrevistas semiabertas com reconhecidos profissionais que atuam no país. Em um contexto de intensas reconfigurações das práticas jornalísticas, assume-se como hipótese deste trabalho que as fake news potencializam o papel social do jornalismo, ainda que os relatos jornalísticos estejam perdendo relevância na construção da verdade dos fatos na atualidade no Brasil e no mundo. Grandes volumes de informação são disseminados por aplicativos e controlados e armazenados por sistemas de big data e por plataformas como Google e Facebook, o que tende a esvaziar o poder das organizações jornalísticas sobre a produção e o consumo de notícias. Além disso, a autoridade do jornalismo sobre a escrita da experiência cotidiana e sobre o que é realidade e verdade é tensionada pelas empresas de fact-checking. Entretanto, considera-se que as fake news valorizam o jornalismo como forma de conhecimento da realidade social, por meio da curadoria da informação, em um cenário de simultânea abundância e de fragmentação de acesso a conteúdos e formatos noticiosos. Esta investigação está amparada em trabalhos de autores que refletem sobre o fenômeno das fake news, como Newman (2018), Guess, Nyhan e Reifler (2018), Coromina e Padilla (2018), Ireton e Posetti (2018), Wardle e Derakshan (2017), Tandoc, Lim e Ling (2017), McNair (2017), Pariser (2011), Sunstein (2010) e Keyes (2004) e em obras de pesquisadores que pensam, criticamente, reconfigurações das práticas jornalísticas na atualidade, como Anderson, Bell e Shirky (2013) e Figaro (2016). São também referências relevantes nesta pesquisa estudos de jornalismo sistematizados por Deuze (2018), Franciscato (2018), Fidalgo (2017), Traquina (2012), Alsina (2009), Schudson (2010), Zelizer (2004), Sodré (2009), Barbosa (2007), Becker (2011, 2005), Aguiar (2010), Sponholz (2009) e Kovach e Rosenstiel (2004).
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JANAÍNA FEITOZA ALVES DE ANDRADE
Fridamania: a ressignificação de Frida Kahlo no acontecimento da primeira megaexposição de suas obras no país
Orientadora: Liv Rebecca Sovik
Resumo: Frida Kahlo, conexões entre mulheres surrealistas no México, primeira megaexposição das obras da artista mexicana no Brasil, foi realizada em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, de dezembro de 2015 a agosto de 2016. Em um recorte curatorial inédito, 30 obras de Frida Kahlo (1907-1954) foram expostas, em conexão com obras de mais 14 artistas mulheres, apresentando Frida como líder feminina em uma rede de produção artística. Com mais de 900 mil visitantes, a mostra figurou em sexto lugar entre as dez exposições mais visitadas no mundo, em 2016, no levantamento do site The Art Newspaper. Durante o período em que esteve em cartaz, foram produzidas inúmeras narrativas na mídia e redes sociais sobre a exposição, mas, principalmente, sobre a vida e a imagem de Frida Kahlo e sua relação com sentidos contemporâneos, como identidade, gênero, movimento feminista, narrativas autobiográficas, consumo de intimidade, a importância da imagem e memória. Em diversas narrativas, Frida foi associada, ainda, a expressões como "mãe do Instagram", "precursora da selfie", "mulher à frente do seu tempo" e "ícone pop", em um processo de “celebretização” da artista, evidenciando a divulgação de fatos da sua vida que foi transposta, em grande parte, para sua obra, caracterizada como uma narrativa autobiográfica por meio de suas imagens. O objetivo deste trabalho é, a partir da análise do evento e das narrativas produzidas a partir desse acontecimento inédito, entender os processos de consagração contemporânea da artista no país, especialmente como ícone da quarta onda do movimento feminista, o papel da Comunicação na construção da fridamania, os temas culturais e as vinculações associadas à imagem de Frida, que levam ao culto de sua vida e sua obra, e, ainda, analisar os sentidos desse ícone, partindo da relação da apropriação e consumo de sua (auto)biografia e da ressignificação de sua imagem. O corpus da pesquisa está definido na seleção de narrativas produzidas sobre a exposição pela imprensa, inclusive online, no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, além do material de divulgação da mostra. Como base para a análise, serão consideradas as narrativas sobre Frida e a própria megaexposição - entendida não apenas como uma mostra de arte, mas como um espaço comunicacional de formação de sentidos – e acionados conceitos como o capital simbólico da artista, pacto autobiográfico, espaço biográfico contemporâneo, biografia sem fim, arte, cultura, memória, identidade e sociedade cultural.
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JULIA CAVALCANTI VERSIANI DOS ANJOS
Megeras (In)domadas: discurso de ódio antifeminista nas redes sociais
Orientador: João Freire Filho
Resumo: O fenômeno do discurso de ódio nas redes sociais tem sido alvo de crescente discussão na sociedade e no campo acadêmico. Este trabalho une diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, como os estudos de gênero, as teorias sobre cultura digital e uma compreensão sobre as emoções que se afasta dos quadros de referência psicobiológicos, tomando de empréstimo pontos de vista da filosofia e da antropologia. O intuito ao adotar as mencionadas concepções é evitar formulações que enxergam o discurso de ódio como conjunto de falas irracionais e manipuladas, uma mera expressão de agressividade determinada pelo anonimato do meio online. Partindo deste substrato, a pesquisa examina, especificamente, um determinado tipo de discurso: aquele dirigido a mulheres feministas. Acusando-as de “nojentas”, “promíscuas”, “fracassadas” e “vitimistas”, estas manifestações buscam afastá-las do espaço público. Deste modo, o objetivo da presente investigação é analisar como discursos emocionais e estereótipos misóginos são mobilizados nas redes sociais com a finalidade de deslegitimar a atuação política de mulheres feministas. A hipótese é que o fenômeno do discurso de ódio antifeminista tem relação direta com uma das principais questões que se apresentam a diversos movimentos sociais atualmente, que é a crise de identidade: o que é ser mulher, hoje, e quem pode falar por elas? A hipótese secundária propõe que, em resposta a este dilema de nosso tempo, a mobilização do ódio e de estereótipos misóginos é utilizada para possibilitar um duplo movimento: cria-se a visão do feminismo em geral como decadência da mulher e do conservadorismo como a única e verdadeira possibilidade de representação e libertação das mulheres. A escolha metodológica para abordar o objeto de pesquisa privilegia os conteúdos disponibilizados no Facebook, a segunda rede social com maior número de usuários no mundo. Mais especificamente, avalio algumas de suas páginas: “Jessicão, a feminista”, “Anti-Feminismo”, “Moça, você não precisa do feminismo” e “Moça, não sou obrigada a ser feminista”. Depois de um período de seis meses de observação (entre novembro de 2017 e abril de 2018), efetuei um exame qualitativo do material, caracterizado por uma seleção dos elementos mais significativos para o problema de pesquisa e por uma análise do discurso de inspiração foucaultiana. Ao final, concluo que o termo “discurso de ódio” diz respeito não apenas a falas ofensivas mas, sobretudo, a um discurso emocional intimamente ligado à racionalidade e a objetivos políticos, como também à definição de nossa identidade. No caso das manifestações antifeministas aqui analisadas, o ódio serve como ferramenta para criar narrativas que delimitam uma estreita definição para o que é ser mulher e visam excluir da participação as vozes discordantes.
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KENZO SOARES SETO
A Economia Política das Mídias Algorítmicas
Orientador: Eduardo Granja Coutinho
Resumo: Esta pesquisa investiga como emergiram oligopólios na Internet como o Google e o Facebook a partir da combinação de uma economia da atenção com processos de extração de dados e a centralidade dos algoritmos nesse processo. Neste sentido, realiza uma revisão teórica do papel dos meios digitais e dos algoritmos para a acumulação capitalista, em diálogo com a tradição da Economia Política da Comunicação e o pensamento marxiano. Destacam-se nessa busca os conceitos de Capitalismo de Vigilância, General Intellect e Acumulação por Espoliação. Ao final, investiga evidências de que os oligopólios da Internet atuam como príncipes algorítmicos, atualização sugerida para o conceito de príncipe eletrônico proposto por Ianni a partir do Príncipe Moderno de Gramsci e do Príncipe de Maquiavel.
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LEONARDO FERNANDES MOTTA
A Duração e a Remediação do Espetáculo Digital: um percurso entre imagens
Orientador: Antonio Pacca Fatorelli
Resumo: Ao final do século XX as tecnologias digitais se entrelaçam progressivamente às imagens, e o crescente hibridismo entre o analógico e o digital passa a revelar novos formatos de representação no cinema. A presente pesquisa busca analisar o processo de remediação digital que se fortalece na década de 1990, junto ao uso intensivo da computação gráfica nos filmes blockbuster, tomando a imagem fotorrealista enquanto eixo de análise. É proposta, no entanto, uma nova perspectiva sobre a remediação, pensada em conjuntura à filosofia de Henri Bergson, com especial destaque a seu livro Matéria e Memória. Os conceitos de duração, memória e matéria são pedras angulares na presente pesquisa, pois possibilitam pensar o processo de remediação sob uma perspectiva que abrange o tempo enquanto elemento de contínua atualização do reconhecimento espectatorial. Nesta intercessão entre os conceitos de remediação e duração, buscamos analisar as semelhanças e diferenças que são agenciadas com o fortalecimento das tecnologias gráfico-digitais na indústria hollywoodiana, apontando a possíveis pontos de virada e avançando na análise de como a remediação digital é capaz de promover uma nova pedagogia visual ao final do século, a partir de uma exponencial influência sobre a memória espectatorial.
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LUANA BULCÃO
“Onde Queres Dubai Sou Pernambuco
Orientadora: Janice Caiafa
Resumo: A presente dissertação propõe-se a estudar o Ocupe Estelita, composto tanto pelo Movimento Ocupe Estelita (MOE), quanto pela causa catalisada pelo grupo Direitos Urbanos (DU). O MOE, movimento de ocupação urbana, surge contra a venda e implantação do Projeto Novo Recife, que prevê a construção de doze torres de até quarenta andares em uma área de especulação imobiliária, onde parte da história pernambucana e brasileira resiste através de uma série de armazéns de açúcar e a segunda linha férrea mais antiga do Brasil. O projeto, proposto pelo consórcio Novo Recife, agora renomeado de Mirante do Cais, se insere em uma lógica de planejamento estratégico, no qual as cidades são pensadas e planejadas como empresas e onde as “revitalizações”, eufemismos para gentrificações, são instrumentos para o ingresso dessas metrópoles no circuito “civilizado”, desenvolvido e cobiçado pelo capital transnacional. Além disso, a crise no sistema de representação política e a insatisfação popular com esses projetos da urbanização contemporâneas fazem emergir novos modelos de articulação e reivindicação: os movimentos sociais urbanos que reivindicam um direito à cidade e se utilizam da ocupação do espaço como objetivo e método. Estes movimentos entendem as urbes como lócus da política e reivindicam uma nova forma de se pensar e planejar as cidades a partir dos anseios e desejos coletivos. Nesse cenário, o Ocupe Estelita desponta como resposta da sociedade civil a esse processo de constituição das urbes em “cidadesnegócios”, atualizando em Recife uma lógica de articulação social que é visível globalmente, onde os movimentos sociais associam-se às mídias sociais produzindo ecos nas redes e nas ruas. Tomando a etnografia como método, a presente dissertação busca tanto compreender o período da ocupação quanto conhecer a situação atual desse movimento. É nossa preocupação examinar se e em que medida o Movimento Ocupe Estelita poderia se apresentar como potência de ruptura de um modelo de planejamento estratégico baseado na lógica da cidade negócio.
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LUIZ FERNANDO WLIAN
Estranhos que Cantam e Dançam: potências dissidentes no cinema musical
Orientador: Denilson Lopes
Resumo: Músicas são potências afetivas. Quando inseridas em filmes narrativos, são capazes de mover a narrativa para outra dimensão, bem como promover novas formas de engajamento do espectador. Assim, podemos pensar em músicas como forças disruptivas, que emergem da narrativa e produzem um reino de novas possibilidades. Nesse sentido, como podemos observar essa ruptura como uma possível fonte de potências dissidentes? De que formas esses momentos podem dar vazão a formas de afeto “outras”, ou a formas de afeto queer? Baseado principalmente nos conceitos de “afetivo-performativo” em Elena Del Río (2008), “momento musical” em Amy Herzog (2010), e “utopia” em José Muñoz (2009), debruço-me em dois caminhos complementares: buscar as potências dissidentes que o gênero musical hollywoodiano apresenta, e observar de que forma essas potências se fazem presentes no cinema queer contemporâneo.
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MAIARA DOS SANTOS MARINHO
Mídia, Neoliberalismo e Ideologia: a Reforma Trabalhista nos editoriais de O Estado de São Paulo, O Globo e Folha de São Paulo
Orientador: Eduardo Granja Coutinho
Resumo: Ao compreender que os grupos hegemônicos na sociedade civil atuam como dirigentes político-culturais podemos afirmar que há ações relacionadas entre si para a manutenção ou renovação desse sistema quando este está em crise. Em tempo de profundas transformações no mundo do trabalho, esta pesquisa busca analisar o método utilizado pelos jornais Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e O Globo nos editoriais do ano de 2017 sobre a Reforma Trabalhista brasileira, assim como suas motivações a fim de compreender quais significações foram elaboradas e a relação destas com as transformações do modo de reprodutibilidade do capital.
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MARIAH CHRISTINE RAFAEL GUEDES DA SILVA
A Publicidade é Política: negociações na representação da mulher pela empresa Avon
Orientadora: Liv Rebecca Sovik
A representação da figura da mulher na publicidade envolve a elaboração de subjetividades e passa pela apropriação sígnica do corpo feminino, pautada majoritariamente por uma sucessão de estereótipos imposta pelo patriarcado. Ao considerar a publicidade como elemento central da comunicação mediada na sociedade capitalista contemporânea, analisamos se e como está sendo processada a mudança do “ethos” feminino em campanhas publicitárias, a partir de anúncios enfocados em “empoderamento feminino” (femvertising) que têm se destacado na segunda década do século XXI e vem sendo potencializados via internet nas redes sociais. Tal como em outras esferas da comunicação, as interações proporcionadas pelo contexto publicitário passam por negociações sociais, o que também envolve uma disputa de poder(es) na hipótese da possível politização da publicidade influenciada pelo feminismo de quarta onda. Adicionalmente, investigamos se, ao utilizar-se de narrativas de valorização da figura feminina, estas peças seriam apenas mais uma tentativa de apropriação de pautas sociais pelo mercado (pinkwashing). Esta dissertação apresenta considerações acerca dos primeiros impactos observados na modificação da representação de mulheres em campanhas publicitárias do segmento de beleza no Brasil, com uma análise descritiva e crítica de peças do posicionamento “Beleza que faz sentido” da empresa Avon, utilizando a noção de “pop-lítica”, referente às aproximações entre política e pop, que passam pelas fronteiras do entretenimento, e tendo como corpus os comerciais que possuem a rapper Karol Conká como garota-propaganda, as tensões envolvidas em sua escolha e a percepção online dela e dessa circulação do feminismo de uma mulher negra.
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PABLO DE LIMA SANTANA
O Vendedor de Sonhos, de Livros e de Si Mesmo: Augusto Cury e seu esquema terapêutico-performático
Orientador: Ieda Tucherman
Resumo: Essa dissertação analisa como a subjetividade contemporânea tem sido remodelada na interconexão da cultura somática, do consumo e dos afetos. O meu lugar de observação desse objeto será o contexto político e econômico do momento, com destaque para os conceitos de neoliberalismo e biocapital, e algumas reflexões sobre a subjetividade contemporânea, privilegiando os elementos da cultura terapêutica e autoajuda. Com base na aceitação popular revertida em sucesso de vendas do escritor Augusto Cury, o objetivo é identificar para onde a autoajuda está direcionando seu discurso. Para compor o trajeto dessa análise, os objetivos anteriores são: refletir sobre o fenômeno da autoajuda, especialmente suas formas de subjetivação na colonização dos afetos, como parte de um movimento maior na sociedade contemporânea; questionar como esse gênero tem ampliado sua penetração em uma proporção e velocidade sem precedentes na literatura (além de sua recente entrada em outras áreas da indústria cultural); e analisar os interesses envolvidos em quem produz esses livros. Esse estudo se empenha em buscar e identificar o que não é mostrado por Cury, desmistificando a percepção de que ele pode aconselhar seu público de forma desinteressada ou altruísta. Para isso, é abordada sua arbitrariedade, como quando demarca sem uma metodologia aparente o desejável e o deplorável, as emoções úteis e inúteis; sua falta de comprovações e demonstração efetiva em determinados assuntos, sua narrativa de coerção, em que estimula o medo para oferecer seus serviços como proteção ou salvação; suas diversas contradições, especialmente a que diz não fazer autoajuda quando segue muitos dos padrões e se utiliza de referências compartilhadas pelo gênero; seu estímulo à manipulação do outro como estratégias de conquista e convencimento; seu alinhamento à exploração no trabalho, incentivando aos profissionais trabalharem mais do que o acordado; é permissivo com práticas de assédio, como da vez que ele considera um bom profissional quem se utiliza do poder do medo, lembrando no final que essa estratégia é apenas menos eficiente do que usar elogios. Cury estimula o conformismo diante das dificuldades de articulação social para a luta política, baseado em sua descrença no debate político e social, fazendo parecer que as dificuldades de mudança social são impedimentos irreversíveis.
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PEDRO ARTUR BAPTISTA LAURIA
R/Place: as dinâmicas provenientes da espacialização, competição e cooperação dos usuários e comunidades virtuais do Reddit
Orientadora: Ivana Bentes
Resumo: Em primeiro de abril de 2017, o Reddit, maior fórum do mundo, realizou um experimento social com seus usuários chamado r/Place. Durante três dias consecutivos, usuários dividiram uma tela em branco onde poderiam se articular em grupos para criar desenhos coletivos a partir de pixels colocados individualmente. Em pouco tempo, uma trama de articulação de comunidades, disputas territoriais e formação de alianças se deflagrou. A partir da revisão e discussão de conceitos como comunidades virtuais, capital social, laços relacionais, subcultura e emergência, este trabalho busca se aprofundar, a partir de exemplos práticos, nas particularidades desse regime de sociabilidade mediado pelo virtual, não só trabalhando com o r/Place, mas também articulando com as relações mediantes ao fórum de onde seus participantes eram egressos: o Reddit.
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RODRIGO AUGUSTO FERREIRA DE MORAES
Interdito e Transgressão: um estudo do abjeto na obra de Carlos Reichenbach
Orientadora: Beatriz Jaguaribe de Mattos
Resumo: Esse trabalho pretende realizar um estudo da obra do cineasta Carlos Reichenbach a partir da representação do abjeto por meio da análise de três recortes temáticos: a morte, o sangue e a prostituição. A partir do estudo de filmes produzidos pelo cineasta entre 1981 e 1984, esta dissertação relaciona os estudos de caso com uma discussão crítica sobre os cineastas que influenciaram a obra do diretor. O conceito de abjeto será contextualizado a partir do ambiente cultural do final da década de 1960 com o Cinema Marginal e da década de 1980 e com a pornochanchada. Ao explorar a linguagem fílmica de Reichenbach, realço sua conexão com o cinema oriental enfatizando como estas influências e a tematização fílmica do abjeto e do realismo grotesco criaram uma estética autoral.
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ROSANGELA DE JESUS FERNANDES
A História se "Repete" com o Auxílio da Imprensa? A estratégia de O Globo em busca de consensos para os golpes de 1964 e de 2016
Orientadora: Suzy dos Santos
Resumo: Os grandes grupos de comunicação do Brasil são não só espelhos da conjuntura em cenários de crise, mas especialmente atores capazes apresentar a realidade transformada por seus interesses e alianças, participando da disputa hegemônica com influência sobre os rumos do país, apesar do empenho em criar imagem de isenção e imparcialidade. A presente dissertação busca, numa perspectiva histórica, refletir sobre esta atuação do jornal O Globo em dois episódios simbólicos da ofensiva das forças conservadoras que abalaram a democracia: os golpes de 1964, contra o presidente João Goulart, e de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff. Com viés comparativo, a investigação se dedicou a identificar rastros e vestígios de uma espécie de “repetição” da história no que diz respeito à destituição de dois governantes legitimamente eleitos que representavam projetos políticos de redução da desigualdade, com as ressalvas necessárias por nossa consciência da impossibilidade concreta da história se repetir. Ao mesmo tempo, nos empenhamos em detectar, nos dois períodos de evidente luta de classes, as marcas das diferenças em aspectos como: temáticas exploradas para a mobilização da população buscando a construção de consensos; exploração de signos; acionamento de emoções; alianças firmadas entre os opositores dos dois governos e na participação do jornal como “intelectual coletivo” e seus jornalistas como “intelectuais orgânicos”. Para este fim, utilizamos a metodologia de análise de discursos tendo como objeto as primeiras páginas do jornal O Globo nos trinta dias que precederam a deposição de João Goulart e o afastamento de Dilma Rousseff pelo Senado, compreendendo que as capas, ainda que tenham sido ressignificadas pelos avanços tecnológicos que alteraram o acesso à notícia, mantém a função de síntese dos temas considerados prioritários pelo grupo de comunicação e se constituem como documento histórico. Os resultados da pesquisa comprovam o apoio do jornal ao golpe de 1964, como foi admitido em editorial em 2013, e apontam indícios da reedição da estratégia em 2016, numa atuação deliberada do periódico como “aparelho privado de hegemonia” e “inimigo íntimo da democracia”. Sem eximir de responsabilidade os governantes e seus grupos políticos, a pesquisa buscou trazer à tona a reflexão sobre o papel dos meios de comunicação nos abalos à democracia que, apesar da utilização de diferentes métodos para deposição dos dois presidentes, tiveram como consequências comuns o avanço da extrema direita e o retrocesso em direitos, no caso mais recente levando o país a viver hoje o que entendemos como um golpe em processo.
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TATIANE BOMFIM DE ARAUJO
Educação em Touch Screen: uma possibilidade de mudança
Orientador: Muniz Sodré de Araujo Cabral
Resumo: Esta dissertação investiga as transformações que ocorreram nos campos da educação e da comunicação desde a chegada das tecnologias digitais. Busca-se, também, entender se, a partir da inovação nas diretrizes pedagógicas, é possível desenvolver habilidades outras nos educandos. Analisam-se duas escolas públicas do ensino médio localizadas na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. São elas: Colégio Estadual José Leite Lopes (CEJL), que possui parceria com a empresa de telefonia Oi Futuro, e a Fundação Osório, que está vinculada ao Exército Brasileiro. O intuito da investigação é comparar diversas formas do fazer educacional, identificar as mudanças que foram significativas para o melhor aproveitamento tanto do aluno como do professor na escola e, por fim, observar, a partir das transformações educacionais, a capacidade potencializadora na formação da cidadania. Sendo assim, define-se como hipótese central que, com a chegada das novas mídias e das fontes inovadoras de estudos, ocorre uma mutação na cultura do saber. A hipótese secundária da pesquisa é se o investimento mercadológico da empresa de tecnologia (Oi Futuro) molda um modelo pedagógico empresarial de ensino. Argumento que entender as transformações na educação a partir das perspectivas comunicacionais seja necessário devido ao novo processo cognitivo impregnado pela televisão e informática. Com o aporte teórico balizando nosso trabalho, a pesquisa se ampara em autores como Souza Santos, Muniz Sodré, Paulo Freire e Foucault, além de contribuições como de Henri Wallon e Leticia Perani entre outros. As discussões se fundamentam em um estudo exploratório na primeira análise; em seguida, na observação participante conforme proposto por Cicilia Peruzzo. A partir da observação, nas duas escolas, oficinas, debates, mostra de projetos, exposição de games, início do projeto de robótica e aplicativos para facilitar os estudos dos alunos e para a utilização como suporte pelos professores. Embora o entrelaçamento da comunicação com a educação possa impactar de forma positiva, com finalidade social e política, também reconfigura novas tendências e demandas. Sendo assim, redescobrir o modelo educacional é, de fato, uma oportunidade para a construção do vínculo como uma mediação simbólica e comunitária.
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TAYANNE FERNANDES CURA
Manas de Batalha: feminismo(s) em rodas de ritmo e poesia
Orientador: Micael Maiolino Herschmann
Resumo: Ocupar todos os espaços da vida social constitui um ato fundamental no contexto das lutas feministas desde o seu princípio. A busca de representatividade pelas mulheres nos lugares historicamente negados a elas é parte de um processo de formação de identidades mais autorreferenciadas, heterogêneas e cada vez mais complexas, sintonizadas com a fluidez, deslocamentos e oscilações do mundo contemporâneo. Seus corpos e vozes em trânsito questionam os parâmetros masculinos perpetuados por uma ordem de dominação androcêntrica, cujo poder se reproduz através da naturalização de arranjos generificados e que, conforme os feminismos avançam, são dessencializados e expostos em sua característica histórica e cultural. Ocupar é, portanto, necessário enquanto estratégia e no hip-hop não seria diferente. O presente estudo pretende refletir sobre as relações de gênero dentro do universo do rap, tendo como foco a participação feminina nas batalhas de rima. Geralmente, as batalhas se encontram organizadas no formato de rodas culturais e ocorrem nos espaços públicos de bairros e municípios do estado do Rio de Janeiro. Por meio de observações e entrevistas de cunho qualitativo, constatamos que, nas batalhas de rima – bem como nas culturas urbanas em geral –, as mulheres são minoria em número e voz. A dinâmica das batalhas mais tradicionais parece ser determinante para a baixa presença e adesão de mulheres ao movimento, constantemente desencorajadas a participarem das disputas ao se depararem com discursos que reproduzem a mesma lógica opressora marcada pelas relações de gênero na sociedade. Além das rodas culturais constituírem um dos maiores fenômenos de ocupação regular dos espaços urbanos nos últimos anos, as batalhas de poesia – popularmente conhecidas como slams de poesia – têm mostrado seu potencial político ao atrair mais mulheres, muitas delas rappers, que parecem encontrar nos slams um lugar preferencial de acolhimento para sua rima. O caráter político do movimento das rodas é inegável na medida em que a ocupação do espaço público pressupõe uma vontade de embate e diálogo com o poder público a favor das artes urbanas e de políticas públicas para a juventude. Além disso, enquanto a atuação de mulheres nos movimentos torna-se mais significativa, levando demandas e pautas femininas (e feministas) para os espaços das batalhas, a questão da visibilidade é posta em primeiro plano de discussão. Para além de vitrines e holofotes do rap nacional, as batalhas de rima e os slams de poesia operam como significativas ágoras contemporâneas, são lugares expressivos de (r)existência e empoderamento através do(s) feminismo(s).
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VICTOR FREITAS VICENTE
A Política da Máquina e de Si: um caso de participação cidadã no Governo do Rio de Janeiro
Orientadora: Fernanda Glória Bruno
Resumo: Este trabalho parte da constatação de que a informação é física (LANDAUER, 1996). Tal afirmativa parece reconhecer, por um lado, a pervasividade das mídias no território e em nossos corpos, mas, por outro, sugere uma aparente – e crescente – indiscernibilidade entre bits e átomos (ISHII; et al, 2012). Reafirmando a efetividade histórica de uma teoria matemática da comunicação (SHANNON; WEAVER, 1964) baseada no controle (WIENER, 1985), constitutiva de uma experiência social dominada por mídias eletrônicas, este trabalho se propõe a uma análise atenta à experiência humana. Sob esta perspectiva, analisaremos a questão da participação cidadã em uma democracia conectada.
Refletir sobre o uso das novas tecnologias da informação e comunicação por governos municipais e suas interfaces com um suposto exercício da cidadania constitui oportunidade estratégica para confrontar a ambiguidade das premissas que reafirmam o caráter essencialmente democratizante do uso da tecnologia para governar. Neste sentido, o presente trabalho toma por interesse a narrativa acerca da participação cidadã no Rio de Janeiro durante o segundo mandato do ex-prefeito Eduardo Paes, entre 2013 a 2016. Em especial, voltamos nossa atenção à noção de polisdigitocracia, criada em sua gestão.
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LARISSA ANTONIETO ARMSTRONG LA BANCA
Verdade Audiovisual, Política: entre a modernidade e a pós-modernidade
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Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso - Histórico
REVISTA ECO-PÓS
v. 26 n. 02 (2023)
Visualidades: estéticas, mídias e contemporaneidade
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