Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso
 
 
 
// TESES E DISSERTAÇÕES
TESES DE DOUTORADO // TESES EM 2024 - Em Construção
AUGUSTO FLAMARYON CECCHIN BOZZ
A Invenção de um Bem-dizer a Verdade: mídia, testemunho e emoções na experiência da depressão contemporânea
Orientador: João Freire Filho
Resumo: Pessoas com transtorno depressivo lançam mão hoje fortemente da prática testemunhal para dizer a verdade sobre o sofrimento. Eles acreditam que a palavra veraz ligada ao testemunho possui eficácia terapêutica ao proporcionar o retorno da autoestima e dar amparo a outras pessoas que sofrem do mesmo problema. Para compreender a atualidade desse fenômeno e as disputas que lhe envolve, é preciso, antes, recuar no tempo para desembaraçar seus fios. O objeto de pesquisa consiste em testemunhos de pessoas com transtorno depressivo veiculados nos jornais Folha de São Paulo e O Globo entre os anos de 1990 e 2010. O material de análise foi coletado através do acervo online dos jornais. Considerou-se todos os textos jornalísticos em que uma pessoa com transtorno depressivo refletia sobre a sua condição e o seu dizer. Consideramos o testemunho como uma prática de verdade, dentre tantos que nossa cultura oferece, e que recentemente se ligou à experiência da depressão. As questões que suscitaram a pesquisa foram: que verdade do sujeito a prática testemunhal produz para que ele próprio possa proferir um discurso veraz? Que jogo determinado de verdade ela introduziu, graças a sua estrutura, tanto para o sujeito quanto para o real de que ele fala? Quais esquemas e estratégias de relações entre sujeitos ela impôs para que fosse efetivada socialmente? O método de investigação foi a arqueologia, a genealogia e o estudo comparado de sistemas de pensamento. A partir da genealogia, notou-se que os testemunhos de pessoas com transtorno depressivo inauguram um bem-dizer a verdade que se distingue do discurso da melancolia. Ao longo das décadas estudadas, a arqueologia dos testemunhos mostrou que eles se estruturam como um sistema complexo de restrições e, sem dúvida, não poderia funcionar sem este sistema, pois a restrição define a qualidade da testemunha, os seus gestos, os seus comportamentos e todo o conjunto de sentidos que acompanham seu discurso. Os testemunhos fundam um passado de sofrimento (cuja imagem é a separação de si), uma necessidade de mergulho nas emoções e a urgência em levar adiante a palavra de salvação. Essa estrutura fixa, assim, a eficácia de suas palavras e seu efeito sobre aqueles aos quais se dirigem. A história dos testemunhos de pessoas com transtorno depressivo bem como a estrutura de seu dizer-a-verdade contribui de maneira significativa para a formação de um esquema de sociabilidade que hoje se lança mão com naturalidade. Sugerimos que tais testemunhos sinalizam, no interior de nossa cultura, as mudanças sistêmicas e cruciais nos modos pelos quais os sujeitos são chamados a dizer a verdade, constituindo, assim, parte do fenômeno que hoje se vê recobrir as redes sociais.
ARQUIVO PARA DOWNLOAD
RIBAMAR JOSÉ DE OLIVEIRA JUNIOR
Reisados Transviados: o gênero brincante nas performances de tradição do Ceará
Orientador: Denilson Lopes Silva
Resumo: Esta tese tem como objetivo analisar a experiência estética de brincantes LGBTQIAPN+ a partir das performances da tradição do Reisado no estado do Ceará, região Nordeste do Brasil. Para tanto, apresento uma cartografia das dissidências sexuais e de gênero através das cidades cearenses que possuem a produção performativa dessa manifestação popular, no sentido de acompanhar a relação subjetiva de brincantes trans e travestis, não binárias, bichas, sapatonas, bissexuais e drag queens no folguedo. Há 8 anos, entre 2016 a 2024, tenho adentrado o circuito afetivo do teatro de Reis no sentido de pensar a insurgência de um artivismo em sua forma brincante, principalmente, a partir da noção de encantamento atrelada à performance cênica do Reisado que mostra como brincantes se encantam para incorporar uma figura lúdica e se desencantam para retornar ao cotidiano. Assim, trabalho com a hipótese de que o artifício constrói modos de vida entre as performances do Reisado que, por sua vez, podem ser articuladas por brincantes dissidentes sexuais e de gênero por uma experiência estética capaz de revisar paradigmas identitários do corpo cristalizados na identidade regional, sedimentados na cultura popular e fixados nas tradições. Por isso, considero que a valorização do artifício como categoria permite pensar a reinvenção tanto das tradições como a desfiguração do próprio popular. As estéticas do artifício mostram que não há apenas a incorporação de um tempo cósmico onde hierarquias sociais são em si suspensas na busca da semelhança, mas a encenação de afetos e sensações de um tempo fabular onde o próprio corpo se faz como obra de arte apresentada na busca da diferença. Pela minoridade, repenso o teatro como encantamento por uma utopia menor diante das alianças que fazem parentesco como cuirlombos na invenção de transcestralidades rituais. Nesse caso, identifico que há uma linhagem masculina, heterossexual e cisgênera em uma gênero-alogia que permite entender não só a passagem de um travestimento lírico para as travestilidades brincantes, mas os enredos de uma suposta raiz CISgênero-lógica que ao longo do tempo foi naturalizada como a própria tradição em seus sentidos autenticados e preservados. Desse modo, desenvolvo a ideia de um “gênero brincante” como encantaria do corpo que historicamente visibiliza camadas entre figurais, entremeios e performances escavadas por uma perspectiva TRANSgênero-lógica. Nesta cartografia, trago as poéticas de uma nova geração de jovens brincantes que iniciaram a participação na cultura popular no início do século XXI, em sua maioria de pessoas nascidas em meados de 1990 entre as gerações de millenials e Z, sendo esse fluxo geracional importante para um outro modo de apreender a cultura popular por paisagens transculturais na contemporaneidade. Desse modo, creio que essas performances mostram como ampliar categorias estéticas inseridas na cultura midiática e marginais na tradição estética do popular, sobretudo, por um olhar queer. Aqui, não há nada a ser resgatado, mas sim reimaginado através de um Nordeste em devires e por um Ceará transviado, na possibilidade de um outro imaginário de esquiva do passado, escapando a folclorização pelas reXistências. Louvado seja o corpo travesti, nas espirais do tempo brincado seja louvado.
ARQUIVO PARA DOWNLOAD
Allan Carlos dos Santos
-
-
Victor Gomes Barcellos
-
-
Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso - Histórico
REVISTA ECO-PÓS
v. 26 n. 02 (2023)
Visualidades: estéticas, mídias e contemporaneidade
HORÁRIO DE ATENDIMENTO
De segunda a sexta-feira, das 11h às 15h.
Para maior agilidade de nossas respostas e processos, favor consultar este portal antes de fazer solicitações.
ENDEREÇO
Secretaria de Ensino de Pós-Graduação da Escola de
Comunicação da UFRJ.
Av. Pasteur nº 250 - fds, Urca, Rio de Janeiro.
CEP: 22290-240
TEL.: +55 (21) 3938-5075
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro © 2014. Todos os direitos reservados