Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso
 
 
 
// TESES E DISSERTAÇÕES
TESES DE DOUTORADO // TESES EM 2020
ALICE CARVALHO DE MELO
Espiral de Lembranças: a ´Tragédia de Mariana` em imagens e memórias
Orientadora: Ana Paula Goulart Ribeiro
Resumo: Nesta tese, investiga-se se há – como e por que – uma trivialização da ideia de tragédia nas coberturas jornalísticas recentes de crimes decorrentes de mineração no Brasil. Identificasse a existência de um repertório cultural, discursivo e audiovisual, apontado como trágico pelo jornalismo televisivo, enquadrado em narrativas de estrutura melodramática. É discutido esse repertório semântico, permeado de imagens e lembranças que conectam a chamada “tragédia de Mariana”, que ocorreu em Minas Gerais, em 2015, a eventos anteriores – chuvas e deslizamentos de terra cobertos pelo jornalismo de televisão desde 1966 –; e a posteriores, como a tragédia em Brumadinho, também em Minas Gerais, em 2019. Por meio do mapeamento de quatro anos da cobertura da chamada “tragédia de Mariana”, faz-se um movimento em direção a um passado e a um futuro, em uma espiral de lembranças. Esse movimento de viagem para dentro é proporcionado pelo mergulho em imagens: do pensamento, televisivas e fotográficas. O mergulho metodológico nas imagens evidencia a potência do fragmento como método e pensamento para a ciência da comunicação e possibilita que haja conexão entre os eventos sob análise e o que está para além deles. A ideia de tragédia é pensada também para além do enquadramento televisivo, que ressoa, pelo não dito, valores que a longa tradição incorpora, como morte, declínio do homem, força da natureza, redenção, providência divina e caridade. Fora da performance da lama personificada nas narrativas de contraste, tragédia existe também no olhar sobre a vida, é captada por meio das lembranças dos moradores de Bento Rodrigues (MG), que durante as entrevistas povoaram as ruínas com histórias de antes, ao longo e depois da lama. Ao narrar a própria vida, estas pessoas elaboram, aos poucos, a experiência violenta que os removeu da terra onde nasceram e cresceram. É por meio do trabalho da memória que reconstroem sua identidade. Construiu-se a tese em metalinguagem: fala de memória, em estrutura mnemônica. Em uma escrita feita com base em cacos, que preza a escuta e a troca, os afetos e os silêncios, a tese é narrada em primeira pessoa do singular e tenta abraçar na prática as características que, segundo Muniz Sodré (2014), são o que fortalecem essa ciência do comum: ouvir, sentir, comunicar. O texto consiste em espaço em que se consolida o comum, é enunciação coletiva, dentro do qual falam múltiplas vozes.
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AMANDA CINTHIA MEDEIROS E SILVA
Devemos Implodir o que Resta de seus Castelos: o Movimento Brasil Livre (MBL) e a mobilização política de emoções
Orientador: João Freire Filho
Resumo: Desde as Jornadas de Junho de 2013, o Brasil tem atravessado intensos períodos de inquietação política, contexto em que atores sociais dos mais distintos alinhamentos ideológicos ganharam projeção. De lá até aqui, muitos desses grupos socialmente organizados ficaram pelo caminho: perderam notoriedade, caíram no esquecimento, desfizeram-se por razões variadas. O Movimento Brasil Livre (MBL) revisou formas de atuação, ampliou pautas e número de seguidores, garantindo posição relevante em meio aos embates políticos que se desenrolam no país; por isso, figura como objeto empírico desta pesquisa. Na busca por recrutar e manter indivíduos e coletividades vinculados às suas causas, movimentos socialmente organizados se utilizam dos espaços interativos da internet para mobilizar emoções politicamente. Cabe, portanto, analisar qual a lógica de funcionamento das dinâmicas comunicacionais – compostas por diferentes estratégias e táticas retóricas – lançadas pelo MBL no Facebook com o objetivo de incitar emoções para aproximar novos atores. Assim sendo, defendo a seguinte tese: visando o engajamento e a manutenção de apoios imprescindíveis ao seu projeto de poder, o Movimento constrói narrativas com o intuito de manipular crenças que mobilizam emoções, tais como medo, raiva, ódio, nojo, indignação e ressentimento em relação àquele Outro que seria o responsável por situações desagradáveis e que, por consequência, deve ser negado. Como desdobramento dessa tese, argumento que, ao tentar impedir qualquer possível vinculação empática com os que se mostram avessos às ideias do grupo, o MBL não só amplia as condições para a conquista de novos seguidores, como também reforça a aversão compartilhada e garante a permanência dos laços que mantêm seus membros coesos numa coletividade. A minha principal hipótese de trabalho consiste, pois, na ideia de que as emoções são exploradas de maneira que a validação do nós se dê, sobretudo, mediante a negação ininterrupta do Outro, o que acontece por meio da retórica da construção do adversário político. Para desenvolver a análise, concentrei-me nas postagens feitas na fanpage do grupo no período que vai de novembro de 2016 a novembro de 2017, em torno de quatro distintas narrativas: a esquerda é corrupta; a esquerda é violenta; a esquerda é oportunista; a esquerda é doutrinadora. Algumas questões guiaram a atividade analítica centrada no uso estratégico da retórica: quem fala e a quem se destina a mensagem?; qual o seu objetivo inicial?; quais emoções estão diretamente postas nos materiais, e quais podem estar sutilmente presentes?. Pelo fato de o conteúdo se estruturar em distintos formatos, o trabalho exigiu uma dinâmica de análise cumulativa – que contemplou textos, imagens estáticas e vídeos – para se chegar a uma visão geral dos discursos persuasivos. Este percurso metodológico permitiu o entendimento de quais são as emoções incitadas pelo MBL no ciberespaço, além do modo como se dá este tipo de exploração com a finalidade política clara de desconstruir a esquerda. Em se tratando de um objeto do tempo presente com tamanha capacidade de afetar a ordem social – basta remontar ao processo de impeachment por ele orquestrado – os resultados da pesquisa, para além de uma contribuição acadêmica, servem ao estímulo de um pensamento crítico acerca dos embates políticos contemporâneos.
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ANDRE CUNHA DUARTE CARNEIRO
Zé Pelintra, o Trickster Cafuzo: o método analético aplicado a uma comunicação transcultural
Orientador: Muniz Sodré de Araújo Cabral
Resumo: Mais de quatro séculos de escravidão dos negros e o extermínio da maior parte da população indígena foram as piores experiências coletivas sofridas pelo nosso povo. O Brasil entra na terceira década deste milênio, porém, sem ter conseguido jamais proporcionar uma reparação justa aos descendentes da barbárie. Além da manutenção, por parte do Estado, de práticas que marginalizam estes dois grupamentos étnicos, existe uma rede sutil de sentido que não só impede o reconhecimento ontológico de formas de vida originárias, em cujo cerne encontram-se filosofias extremamente sofisticadas e imprescindíveis à nossa partilha do comum, base de toda Comunicação, como perpetua o epistemicídio. Em meio às manifestações culturais e religiosas afro-ameríndias, há, contudo, um personagem capaz de sobressaltar estas rígidas fronteiras a fim de suplantar as contradições e aproximar radicalmente as diferenças. Trata-se de Zé Pelintra, herói às avessas, patrono da malandragem, mestre-mór do Nordeste, enfim, o trickster cafuzo: metade preto, metade índio. Junto a ele e através dele, inicia-se uma densa e profunda viagem pelo país, a partir de uma arriscada jogatina acadêmica. O Rio Capibaribe vai desaguar na Baía de Guanabara, a qual afluirá até ao Lago Guaíba. Ao longo deste percurso, ocorre uma atrevida transa intelectual entre o saber acadêmico, sob o axé bibliográfico de Muniz Sodré, e o saber oriundo dos terreiros. Para tal, lança-se mão da criação de um método, batizado aqui de analético, único capaz de dar conta desta empreitada orgiástica. A hipótese central da tese, afinal, é de que Zé Pelintra produz pensamento, ao mesmo tempo que, através de Zé Pelintra, é produzido pensamento: um Brasil marginal.
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ANDRE CUSTODIO PECINI
Tecnologias da Comunicação e os Desdobramentos Contemporâneos do Empreendedorismo de Si: startuppers e trabalhadores de plataforma
Orientador: Henrique Antoun
Resumo: O potencial revolucionário das tecnologias da comunicação impulsionou a emergência de duas novas formas de trabalho e de vida. As startups são empresas criadas para promover rupturas nos comportamentos e nas relações por meio de aparatos digitais, entre redes e apps. As plataformas digitais reorganizam a mediação de informações e atividades, provocando mudanças extensas na sociedade e no trabalho. Tanto os indivíduos que se engajam no desenvolvimento dessas empresas, os startuppers, quanto os trabalhadores de plataforma, são definidos como empreendedores. Partimos das pesquisas foucaultianas sobre a governamentalidade para investigar os processos que dão forma às vidas desses indivíduos. O humano econômico que emerge com a razão de Estado assume a forma de um empreendedor de si no século passado, responsável por investir no próprio futuro. A partir de pesquisa documental e bibliográfica, propomos que atualmente, desdobra-se em um indivíduo voltado para o presente. No caso dos startuppers, trata-se de um empreendedorismo concreto, instigado por uma concepção solucionista e vinculado a um complexo dispositivo de fomento. Entre os trabalhadores de plataforma, questionamos o próprio uso do termo contra as evidências que mostram sua precariedade. Esses últimos expressam de forma privilegiada o quanto as plataformas digitais estão entranhadas na sociabilidade e fazem parte da constituição de novas formas de trabalho, de vida e de liberdade.
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CIRO MARTINS LUBLINER
Recomposições: poéticas da apropriação na arte contemporânea
Orientadora: Katia Maciel
Resumo: Esta tese versa sobre a noção de recomposição em casos encontrados na arte contemporânea. A partir do dado-diagnóstico patente de que nos dias atuais vivemos, talvez mais do que nunca, imersos em atividades e processos que lidam com o reaproveitamento de fontes e materiais preexistentes, busca-se verificar de que modo esse cenário se instaura no campo das artes. Traçando uma linha que atravessa a arte no século XX, principalmente pelo trabalho de alguns artistas que valorizaram a repetição como produtora da diferença, nota-se como a arte teve papel fundamental e de antecipação dos gestos de apropriação e recriação de signos emanados por outrem. A partir da chegada no século XXI, com a aparição de uma arte remix, própria ao universo digital, a pesquisa propõe uma tipologia distintiva de ordem crítica que conduz aos atos de criação recompositiva perseguidos, aqueles que – para além dos aspectos de operação formal e alteração contextual – irão efetiva e radicalmente recompor em chave imanente, promovendo reviravoltas que rompem com os clichês e a mera representação dos signos tomados. São visitados então, para lançar olhares críticos sobre a recomposição que se produz em imanência na atualidade, em sintonia com uma dita “artepensamento”, dois filmes de documentaristas brasileiros: Homem Comum de Carlos Nader e Histórias que nosso cinema (não) contava de Fernanda Pessoa, bem como obras do coletivo de arte sonora Chelpa Ferro. Ao final, há a exposição mais explícita da engrenagem de recomposição que a própria tese apresenta, destacando ainda mais o caráter fragmentário de escrita e criação no qual se apoia a pesquisa.
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CRISTINE GERK PINTO CARNEIRO
(Re)Parem (N)As Máquinas: jornalismo, memória e testemunho em novas leituras do século XXI
Orientadora: Marialva Carlos Barbosa
Resumo: Esta tese tem o objetivo de analisar práticas do jornalismo no início de século XXI, período marcado por uma cultura de crescente valorização do testemunho, discurso autobiográfico considerado crucial para a produção da subjetividade contemporânea. Além de propor uma reflexão teórica sobre o que denominamos “Jornalismo na Era dos Testemunhos” e o papel da memória na construção e consolidação destes relatos, são coletados e interpretados os testemunhos de jornalistas apontados como personagens emblemáticos da profissão pelo grupo estudado. Como marco teórico, elegemos alguns conceitos fundamentais para uma análise governada por um olhar historiográfico (memória, testemunho, continuidade e mudança, processualidade, interpretação), ainda que concentrada em reflexões referentes ao tempo presente. A intenção é investigar o que muda e o que permanece no campo profissional, considerando estes jornalistas reconhecidos e eleitos como referência pelos próprios pares também testemunhas desta história em transformação. Como método de pesquisa, mais de cem jornalistas que atuam ou já atuaram em redações cariocas responderam questionários para eleger seus profissionais de referência, que aqui serão considerados personagens-emblemas memoráveis, e quais os valores/qualidades admirados nestes personagens. Os mais citados (Ricardo Boechat, Caco Barcellos, Eliane Brum, Glória Maria e Leslie Leitão) foram entrevistados para que pudessem ser colhidos seus testemunhos sobre memória do jornalismo, transformações da profissão na contemporaneidade e a influência, nas práticas jornalísticas, da ampla circulação virtual de relatos. As análises dos entrevistados são divididas em três dimensões temporais (passado, presente e futuro), as mesmas que norteiam nosso estudo sobre a profissão. A hipótese perseguida é a de que se há uma mudança do testemunho como dimensão do jornalismo, haveria também transformações nas práticas e na identidade jornalísticas. A pesquisa busca responder ainda uma questão principal: se muda o papel autoatribuído do jornalista, de ser ele mesmo testemunha da história, mudaria também seu papel de produtor e conservador de memórias coletivas e disseminador de uma verdade reconhecida pelo senso comum? Como resultados, vale destacar a análise de que os valores e características buscados e ressaltados como essenciais para a profissão são históricos: o jornalista é aquele que revela a verdade, o literato, o repórter. A mudança na forma de fazer jornalismo não mudou a forma como o jornalista se vê e quem ele quer ser. Interpretamos as dissonâncias entre ideal e prática.
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EDUARDO SILVA
Um Papa em Rede: Francisco e as redes sociais
Orientador: Márcio Tavares d’Amaral
Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo analisar a construção social da imagem e do imaginário do Papa Francisco por meio das redes sociais. Para tanto, foram analisadas as contas oficiais do Papa: @Pontifex_pt no Twitter e @franciscus no Instagram, bem como a conta oficial da Igreja católica no Facebook, o Vatican News. Esta análise buscou também a comparação com outras expressões religiosas bem como a atuação de outros membros da Igreja católica nas redes sociais como o Padre Fábio de Melo. Da mesma forma, a análise se voltou também para as reações, compartilhamentos e comentários realizados nas postagens. A pesquisa se enquadra em dois movimentos, de um lado contribuir para a problematização sobre o uso das redes sociais, e de outro compreender como esta nova ambiência interfere na vida do homem-comum, em especial, no campo religioso. Em termos metodológicos, esta pesquisa se desenvolve na análise etnográfica descrevendo o comportamento na ambiência das redes sociais, contribuindo para a construção do imaginário sobre a figura do Papa Francisco. O critério metodológico é o engajamento, ou seja, a audiência mensurada pelas reações nas redes sociais. No intuito de compreender como se dá a construção da imagem do Papa Francisco através das redes sociais, foi necessário inicialmente desvendar quem é este homem-comum que usa as redes sociais, como ele próprio se constrói nesta ambiência, como se expressa religiosamente e qual o significado da religião em plena pós-modernidade. Na sequência a pesquisa adentra no “como” as religiões estão expostas nas redes sociais, as páginas, os perfis, os comentários e as mensagens. Por fim, a pesquisa foca em descobrir os usos da imagem de Francisco, seja pela própria Igreja, seja por usuários que buscam em sua imagem construir o seu próprio perfil em rede.
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ELIZIANE MEURER BOING
Migração e Interculturalidade: faces e interfaces da migração haitiana em Joinville
Orientador: Mohammed ElHajji
Resumo: Durante sua jornada migratória, os imigrantes passam por importantes mudanças e transições. Para muitos, a inclusão no mercado de trabalho, por exemplo, é um passo importante na promoção da integração em seu país anfitrião, no entanto, várias dificuldades podem ser vivenciadas por essas pessoas através desse processo, como a discriminação sistêmica e o processo de aculturação pelo qual os imigrantes buscam adotar atitudes, valores, costumes, crenças e comportamentos de um novo país. Com o mundo cada vez mais globalizado e hiperconectado, vê-se a essencialidade das práticas comunicacionais interagindo de maneira eficaz entre as culturas, fazendo-se necessário compreender as perspectivas culturais estrangeiras e sua relação com a comunidade receptora. A área de concentração da presente exploração é a comunicação e cultura, visando ampliar as pesquisas para os estudos culturais, tendo como objetivo compreender a dimensão intercultural, no processo contemporâneo de imigração, por meio da análise das narrativas dos imigrantes haitianos na cidade de Joinville/SC. A metodologia empregada é de natureza qualitativa exploratória, com estudos de observação etnográfica dos Haitianos em Joinville e o uso da Hermenêutica de Profundidade das narrativas das histórias de vida e de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas utilizadas para este estudo, estavam transcritas e disponíveis no Laboratório de História Oral da Univille, como fonte de pesquisa e haviam sido concedidas a um grupo de pesquisadores em 2017. O uso desse material é justificado pelo rico conteúdo e pelas multiplicidades interpretativas possíveis, além de servir como fonte de futuras pesquisas e estudos. Fez-se a pesquisa hermenêutica que traz à luz a reflexão teórica como um princípio científico e educativo para a interlocução e para a contradição formativa em diálogo com o outro, superando as fraquezas e limitações da incompreensão. Os resultados deste estudo expõem que as redes interculturais criam barreiras para os imigrantes haitianos, bem como para a comunidade que acolhe esses novos grupos. Partindo do entendimento de que a natureza intercultural representa o espaço interacional e o contato entre indivíduos de culturas dissemelhantes, as tecnologias nas formas de comunicação se apresentam como fatores que auxiliam as práticas comunicacionais, além de gerar no indivíduo consciência de crenças e valores de outras pessoas e a vontade de reconhecer quando elas podem colidir, apontando que tal sensibilidade pode afetar e interferir no processo intercultural.
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DEBORAH REBELLO LIMA
Políticas Públicas de Comunicação e Cultura: novos diálogos ou antigos silêncios? Um estudo comparativo entre o Conselho Nacional de Política Cultural e o Conselho de Comunicação Social (2003 – 2014)
Orientadora: Suzy dos Santos
Resumo: Objetiva-se observar, analisar e ponderar a complexidade do estado brasileiro “em ação” nos campos da Comunicação e da Cultura, marcadamente, entre os anos de 2003 e 2014, questionando a fronteira entre os campos. Utilizam-se como objetos os espaços de participação da sociedade civil na formulação de políticas em cada uma das áreas: o Conselho Nacional de Política Cultural e o Conselho de Comunicação Social. Parte-se da hipótese de que o CNPC e o Ministério da Cultura conseguiram avançar mais fortemente no desenvolvimento de ações que tenham como base a perspectiva do direito à comunicação, por entendê-lo como parte dos direitos culturais. Por meio da análise documental destes conselhos almeja-se recompor a teia discursiva e avaliar os atritos entre as áreas, colocando em discussão a estrutura decisória e a forma de ingerência de múltiplos interesses no processo.
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FLAVIA PINHEIRO MEIRELES
Movimentos Sociais e Contextos Artísticos: lutas pelos corpos e pela terra no capitalismo neoliberal
Orientadora: Maria Cristina Franco Ferraz
Resumo: Esta tese busca, a partir do campo da arte e da cultura, formular questões sobre arte e dimensão social, suas políticas de alianças e valores a partir dos quais práticas estéticas e artísticas são realizadas, mobilizando questões sobre gênero, sexualidade e direito à terra. Trabalhando com a hipótese de que o exame do capitalismo seria o ponto central para travar uma luta pelos corpos e pela terra, argumento de que modo esta fase neoliberal atua, por um lado, como continuidade de problemas históricos e, por outro, como renovada maneira de gerenciamento dos desejos por meio de uma normativização dos comportamentos. Há um senso comum que vincula automaticamente a prática da arte a uma crítica ao sistema. O cenário, entretanto, é mais ambíguo e complexo. Seguindo uma linha de argumentação traçada pela teórica de arte contemporânea Bojana Kunst (2015), sustento a ideia da proximidade da arte com o capitalismo, isto é, da forma imbricada com que as instituições da arte têm se desenvolvido lado a lado com o capitalismo neoliberal. Isto se dá com a análise das instituições e do trabalho do artista a partir de um enquadramento teórico marxista, de diversas perspectivas feministas e decoloniais. A bibliografia, portanto, atravessa os campos da arte, da comunicação, do pensamento sócio-político e econômico, das diversas matizes do feminismo, do pensamento decolonial e de saberes indígenas. Proponho a noção de contexto artístico a fim de deixar ver efeitos sobre autoria, agência e relação com o capital. Por fim, discorro sobre as possíveis políticas de aliança e valoração, atentando também para as limitações destas alianças. O discernimento entre o que pode ou não ser realizado não necessariamente aponta para uma conformidade, mas pode instigar uma transformação social sintonizada com uma realidade. Uma pista, talvez, seja a capacidade em efetivar um circuito de “nutrição” em resposta a um extrativismo capitalista.
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HERMANO ARRAES CALLOU
A Forma da Duração
Orientador: André de Souza Parente
Resumo: Esta tese teve como ponto de partida o reconhecimento de que a duração se tornou um conceito importante na discussão sobre arte a partir da segunda metade do século XX. O termo procurava exprimir uma certa experiência de continuidade temporal solicitada por novos trabalhos de arte, desenvolvidos no contexto das artes experimentais dos anos 1950 e 1960. Esta tese pretendeu mostrar o desenvolvimento da duração como forma na tradição do cinema experimental estadunidense, situando o cinema no contexto mais amplo da crise do paradigma compositivo em arte.
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IZAMARA BASTOS MACHADO
O SUS Midiático: historicidades e sentidos sobre saúde pública no jornal O Globo (1988-2018)
Orientadora: Ana Paula Goulart Ribeiro
Resumo: A pesquisa se propôs mapear a forma como o Sistema Único de Saúde (SUS) foi discursivamente construído, em seus primeiros 30 anos de existência, na imprensa. Considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, há várias disputas em torno da forma como ele é apresentado à sociedade. Dentre as diferentes instâncias e atores que constroem discursos sobre o SUS, optamos por nos deter sobre a imprensa, entendendo que esta se comporta como agência e ator social que ocupa um lugar central na construção de uma dada visão sobre o sistema. Para isto, partimos da hipótese de que há um tipo de SUS construído na mídia ao longo do tempo e consideramos que a grande imprensa cristaliza em suas páginas sentidos que circulam mais amplamente. Nomeamos este SUS como: SUS Midiático. Para alcançar nossos objetivos, metodologicamente optamos por nos deter sobre as construções discursivas sobre o SUS no jornal O Globo, entre 1988 e 2018, buscando identificar a materialidade dos textos presente nesse periódico, apontando a historicidade dos processos comunicacionais desenvolvidos na e através da imprensa, especialmente a partir das perspectivas de Ribeiro & Barbosa. Nossas principais referências, nesse percurso, foram as contribuições teóricas de Mikhail Bakhtin, com foco nos conceitos de polifonia e dialogismo e na concepção dos discursos como lugares de lutas pelos sentidos, e Reinhart Koselleck, em especial sua proposta de uma história dos conceitos e a noção de estratos do tempo. A pesquisa identificou que diversos sentidos sobre o SUS foram produzidos pelo jornal O Globo.
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JANINE FIGUEIREDO DE SOUZA JUSTEN
A Caricatura e o Imperativo da Modernidade: o papel da revista O Malho nas reformas urbanas do Rio de Janeiro (1900-1910)
Orientador: Marcio Tavares d’Amaral
Resumo: Esta pesquisa discute as relações entre as caricaturas e charges publicadas na revista O Malho na virada do século XX e os “artistas do traço” que as produziram, a fim de compreender os efeitos desses investimentos sobre as leituras das reformas urbano-sanitárias da cidade do Rio de Janeiro. Para além da hipótese central, de que a análise das imagens seria indissociável das análises de trajetória de seus agentes, elencam-se outras duas que dizem respeito à formação do grupo de caricaturistas e ao lugar ocupado pelo periódico no universo da imprensa local. Em primeiro lugar, argumenta-se que a classificação híbrida do grupo, que transitava entre os domínios da arte, da intelectualidade e da política, não se deu pelo fracasso de um projeto de autonomização mas, ao contrário, como parte das estratégias de manutenção de múltiplas posições e identidades que permitiam tecer críticas e sátiras políticas sem que sua produção implicasse rompimentos mais dramáticos com o espaço das “elites”. Em segundo lugar, questionam-se as representações e práticas tributárias de um “jornalismo de combate”, “popular” ou “contra hegemônico” como expressão das tomadas de posição da revista naquele contexto. Foram coletadas 682 imagens no total, a partir de 224 exemplares que circularam entre 20 de setembro de 1902 e 31 de dezembro de 1906; os colaboradores, dirigentes e seus influenciadores (i.e aqueles que contribuíram diretamente em seus percursos escolares ou profissionais) somaram uma amostragem de 45 indivíduos, dentre os quais se destacaram Rafael Bordalo Pinheiro, Angelo Agostini, Julião Machado, Calixto Cordeiro, Raul Pederneiras e J. Carlos. A prosopografia se deu com base em fontes diversas, como textos biográficos e autobiográficos, trabalhos acadêmicos, projetos de memória da imprensa e produções literárias que reconstituíram os palcos de disputas estéticas e políticas da época. Quanto ao manejo dos bancos de dados, foram empregadas análises de correspondências múltiplas (ACMs) e análises de redes, permitindo uma interpretação mais precisa dos resultados parciais. Postas em concorrência, essas informações possibilitaram, então, a indicação do papel d’O Malho na produção da crença da modernidade na cidade, articulando as ideias de “civilização” e “progresso” às figuras políticas de Pereira Passos e Rodrigues Alves e à figura de “Zé Povo”, que buscava sintetizar as demandas e os costumes das “classes populares”.
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JOAO ALMEIDA MEDINA
Silêncio: estratégia política e comunicacional em Cabo Verde
Orientadora: Marialva Carlos Barbosa
Resumo: Este trabalho debruça-se sobre a complexidade de compreender as estratégias comunicacionais e políticas que se dão em relação à fome. No caso de Cabo Verde, os silêncios ou não ditos não constituem uma determinação coerciva imposta aos jornalistas. Num contexto em que as fronteiras entre silêncios e não ditos se fazem tênues, a táctica era não trazer ao público vozes que destoassem dos representantes do poder. Para recuperar essas vozes, testemunhas do tempo vivido, esta pesquisa pôs-se à escuta de quem trabalhou no programa de combate à fome denominado de Operação Santo Antão 85 e de quem recebeu os apoios dele. O desafio do campo da comunicação no qual esta pesquisa se situa era encontrar equilíbrio entre várias perspectivas e práticas. Os dados quantitativos realçados nos poucos estudos sobre a fome não seriam suficientes para fazer uma reflexão acerca dos silêncios enquanto estratégia política em Cabo Verde. Na combinação de perspectivas metodológicas, usamos a etnometodologia, enquanto método de entrevista e conversação, e a autoetnografia em diálogos com autores do campo. O dever de não esquecer as histórias de vida do passado, mas também o presente de quem vive no limiar da miséria humana, leva-nos a estabelecer uma espécie de tipologia de silêncios. Em alguns momentos deste texto, o silêncio apresenta-se como estratégico, estabelece o tempo de dizer e o de esquecer. Quando o passado longínquo se assume como fundamental para aliviar ou fazer esquecer o passado recente, o silêncio torna-se memorial. Trata-se de um silêncio adveniente de um esquecimento produzido, que se configura como memória longínqua e que por vezes aflora em brechas de lembranças. Do ponto de vista individual, as lembranças do passado longínquo servem para se esquivar e esquecer os momentos mais recentes de miséria. A respeito desse flagelo, nota-se também uma fala eloquente que se dá quase sempre por meio de táticas eufemísticas. Isso quando a parole de fraqueza, debilidade, malnutrição e subnutrição substitui a 2fome, tentando esconder a miséria e as múltiplas ausências, de comida a condições sanitárias. Fazem-se silêncios eloquentes. As lembranças, ainda confinadas ao silêncio no que tange a publicações de historiadores, passam de uma geração a outra pela oralidade, no espaço privado, e por isso permanecem vivas na memória. Em outros momentos, o silêncio faz-se negociado. Nesses casos não dizer resulta menos de uma imposição e mais de uma percepção captada no seio do grupo de pertença. Por sua vez, no plano individual, o silêncio dá-se muitas vezes por causa de uma dor pessoal, como a perda de um filho ou de um familiar em tempos de miséria, seca e fome. O silêncio da dor faz-se para que a vida siga, ainda que as marcas estejam presentes nas expressões, nas imagens, nas pistas de que houve uma existência que se foi em momento difícil. Quando as perdas são coletivas ou grupais, tornam-se traumáticas. O silêncio advém de um trauma por parte de quem presenciou a miséria, a fome e as mortes e carrega consigo marcas psicossociais dessa experiência vivida.
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JUCILEI GERALDO HUBNER
A Construção da Velhice através das Relações entre Mídia, Corpo e Consumo
Orientadora: Victa de Carvalho Pereira da Silva
Resumo: A presente tese, "A Construção da Velhice através das Relações entre Mídia, Corpo e Consumo", objetiva estudar o interesse da Revista Veja, em edições dos anos de 1994 e 2018, em trazer propagandas voltadas ao público idoso, visando a verificar se está sendo criada uma nova construção da identidade do idoso, uma nova simbologia do idoso na sociedade para exploração do capitalismo como forma de obtenção do lucro. A escolha do tema se deu devido ao atual crescimento populacional desse público. Por conta desses números, que são comprovados, imaginava-se que as possibilidades apresentadas para público em análise, no sentido de consumo, seriam inúmeras e acessíveis, o que não foi comprovado. Com o auxílio de referenciais, como estudos de Foucault e Canclini, o perfil do idoso de hoje foi devidamente traçado, assim como as suas necessidades. Partimos da hipótese de que há uma nova subjetividade do idoso, a construção de uma nova configuração da velhice, com base em uma complexa rede de poderes que exercem influência, entre essas forças: a Mídia, o corpo e o consumo. A alteração do papel do idoso na sociedade e da forma como ele interage e se enxerga dentro da sociedade, se percebe, é apenas uma preocupação da sociedade capitalista quanto ao consumo dessas pessoas. E não relacionada às criações que pudessem suprir as suas necessidades e fossem viáveis financeiramente, de acordo com os seus ganhos. Por isso, muitos dos idosos acabam não conseguindo consumir e, consequentemente, aqueles que, por falta de recursos financeiros ou opção própria, não compram, são vistos apenas como mais algumas pessoas que não possuem utilidade para o sistema. Outro fator essencial é o fato de não existir um mercado criado especificamente para esse público, baseado apenas em suas necessidades ou preferências, o que ocorre é que eles acabam tendo que consumir aquilo que já existe e foi criado pensando-se em outro perfil, normalmente jovem. É como se, para pertencerem à sociedade, o processo fosse este: adquirir produtos sugestionados. Justamente porque os estereótipos considerados positivos e negativos já foram impostos pelo mercado, visando ao lucro. Como os idosos não querem a exclusão, e sim, a aceitação, o que resta é consumir.
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LILIAN REBELLO TUFVESSON
Barricada: ação política e experiência estética
Orientador: Mauricio Lissovsky
Resumo: Esta tese busca analisar a iconografia sobre barricadas. A partir do mapeamento de afetos sediciosos que formam os levantes, da história fragmentada das barricadas e de representações imagéticas ao longo do século XIX, a pesquisa observa gravuras, pinturas, daguerreótipos e outras fotografias pioneiras como narrativas visuais que se tornaram referenciais para o imaginário coletivo dos insurgentes. Através de uma abordagem fundamentada principalmente em conceitos que relacionam historiografia, história da arte e fotografia, a tese abre uma caixa de memórias do presente, guardiã das barricadas contemporâneas cujas imagens circulam tanto pela imprensa tradicional quanto pela internet. A trajetória da pesquisa considera a longa transição entre a função prática original e a posterior dimensão simbólica da barricada, processo histórico no qual as imagens têm importante participação. Como atmosfera que atravessa os séculos junto com as barricadas, a tese encontra músicas que unem afetos e ativam gestos que se materializam nas imagens, desde a ópera oitocentista La muette de Portici como estopim da Revolução Belga de 1830 à canção do musical Les Misérables entoada em coro por milhares de insurgentes nos recentes protestos em Hong Kong e às melodias tocadas no piano sobre a barricada em Kiev, na Ucrânia, também no século XXI. Iluminada pela leitura de pensadores como Walter Benjamin, Michael Lowy, Vilém Flusser, Hannah Arendt, Peter Burke e Eric Hobsbawn, entre outros, a tese suscita percepções sobre o significado de levantes e barricadas nos tempos atuais.
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MONICA LISBOA TORRES
Fotografia e Câncer: como a doença torna-se obra de arte?
Orientadora: Ieda Tucherman
Resumo: A presente tese investiga séries de autorretratos de mulheres com câncer na fotografia do campo da arte. A pesquisa busca traçar uma relação dessas fotografias com alguns sintomas ou características da arte contemporânea, sobretudo com uma guinada autobiográfica nas artes e com o retorno do real traumático, defendidos por Foster (2014). No percurso, investigam-se outros sintomas da fotografia do campo da arte atual, como: o lugar central adquirido pelo corpo; a valorização da performance e da encenação de si e a articulação entre arte, corpo e política. Ao longo desta tese, resgata-se a trajetória histórica de algumas temáticas vinculadas ao nosso objeto: doença e câncer na história das artes visuais; visibilidade do corpo ligada à arte, ao espetáculo e à medicina; e fotografia como material das artes. Há alguns trabalhos precursores que se relacionam ao contexto da arte produzida após a Segunda Guerra Mundial, o qual enfatiza o sujeito traumático e fragmentado, e às temáticas de contracultura, ligadas a movimentos sociais e feministas. Na abordagem do câncer, os primeiros autorretratos identificados foram de Jo Spence (1982-1990) e Hannah Wilke (1993). Essas artistas iniciaram um movimento de mostrar seus corpos durante o tratamento, sem esconder o sofrimento ou excluir imagens das mutilações ou transformações provocadas pelo câncer ou pela tentativa de cura. O estudo analisou esses dois trabalhos e seis séries mais atuais (anos 2000): Kerry Mansfield (2009), Clare Best (2011), Barbara Hammer (2014), Mônica Imbuzeiro (2017), Tracey Derrick (2009) e Nailana Thiely (2005). Nessa análise, identificam-se proximidades e diferenças e destacam-se estratégias e abordagens das quais as artistas parecem não conseguir escapar. Constata-se que esses autorretratos vêm sendo usados como uma forma de terapia e, simultaneamente, de ativismo, pois buscam deslocar o câncer do campo da moralidade para o da política. Ao mesmo tempo, também têm funcionado como uma forma de comunicação e aproximação entre essas mulheres.
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PAULO FALTAY FILHO
Máquinas Paranoides e Sujeito Influenciável: conspiração, conhecimento e subjetividade em redes algorítmicas
Orientadora: Fernanda Glória Bruno
Resumo: A tese se debruça sobre o grupo autointitulado Targeted Individuals (TIs), ou Indivíduos-Alvo. Reunidos em sites, blogs e redes sociais digitais, os TIs partilham da crença de serem vítimas de manipulação e de controle mental por meio de aparelhos eletrônicos e tecnologias digitais. A análise da produção de conteúdo pelo grupo em canais do YouTube permite notar como a percepção de influência pela tecnologia, para além de circunscrita a delírios e fantasias psíquicas particulares, se apresenta como uma tentativa de elaboração de sentido frente à centralidade ocupada por plataformas e opacas mediações algorítmicas na reorganização das vidas sociais e subjetivas. A hipótese aqui desenvolvida é de que a crescente proliferação de narrativas paranoides e conspiratórias se deve não apenas às impossibilidades cada vez maiores de distinção entre verdade e mentira, e ao caos e à insegurança informacional advindos de disputas epistemológicas e políticas no debate público. É fruto também dos investimentos das empresas de tecnologia em técnicas e procedimentos de produção de conhecimento sobre indivíduos e populações de modo a influenciar, gerir e intervir no comportamento. Os modos de percepção e subjetivação paranoide são, assim, relacionados à emergência da figura do sujeito influenciável. A tese pretende mostrar que a noção de influenciabilidade dos sujeitos, tornados objetos de intervenções a partir do comportamento monitorado, articula modos de percepção paranoides sobre as relações de poder, os regimes de saber e os modos de ser em redes algorítmicas do capitalismo orientado por dados. Trata-se de dimensões relacionadas, respectivamente, com o conspiracionismo; com a crença na eficácia tecnocientífica e nos conhecimentos produzidos a partir de dados digitais; e com os modos de subjetivação e de constituição de si ante a promessa de personalização dos sistemas automatizados de recomendação e direcionamento de conteúdo.
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RAFAEL PEREIRA DA SILVA
Representações, Discursos e (In)visibilidades da Negritude no Telejornalismo Brasileiro: quando o negro e as relações étnico-raciais são notícias na TV?
Orientadora: Beatriz Becker
Resumo: A Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 da Presidência da República revela que a televisão é o principal meio de informação para a maioria da população brasileira. A partir dessa constatação a tese visa analisar as representações do negro, do racismo e das relações étnico-raciais no telejornalismo brasileiro. Assumimos que a invisibilidade do negro nas produções televisivas ainda funciona como instrumento de exclusão. Os telejornais são capazes de representar a diversidade cultural, entretanto, seus modos de produção e padrões narrativos são tão cristalizados que impedem o reconhecimento e a representação da diferença, produzindo a invisibilidade e os estereótipos sobre o negro. Porém, os telejornais também podem contribuir para a redução de desigualdades e para a democracia ao atribuírem visibilidade às diferentes identidades culturais do país. Como assevera Ramos (2002), discutir as dinâmicas da mídia frente às questões de raça e etnicidade é, em grande medida, discutir as matrizes do racismo no Brasil, não sendo possível promover um processo de transformação cultural e de superação do racismo, de combate aos estereótipos e de luta contra a discriminação sem a participação efetiva dos meios de comunicação. A pesquisa busca fazer uma análise comparativa da produção noticiosa de dois telejornais de abrangência nacional, o Repórter Brasil, da TV Brasil, e do Jornal Nacional da Rede Globo. Adotamos a metodologia da Análise Televisual (AT) proposta por Beatriz Becker (2005, 2012, 2016), por permitir a leitura crítica de conteúdos e formatos audiovisuais, formada por três etapas: a descrição ou contextualização do objeto de estudo; a análise televisual, reunindo uma análise quantitativa e uma análise qualitativa e a interpretação dos resultados. Tal método é aplicado neste estudo para entender como as relações étnico-raciais são noticiadas na TV. O corpus é constituído por 168 edições dos referidos noticiários televisivos, coletadas de novembro de 2017 a maio de 2018, totalizando 110 horas de material audiovisual. Buscamos identificar se os telejornais contribuem ou não para a emergência e construção de novos debates e discursos sobre negritude no país. Esta reflexão implica discutir as matrizes do racismo no Brasil e a produção noticiosa da televisão. As narrativas telejornalísticas tomadas pela perspectiva da diferença podem ser estratégicas no combate à injustiça social e na promoção do reconhecimento cultural da população negra no Brasil. A reflexão crítica proposta neste trabalho é fundamentada nos estudos sobre negritude e relações raciais no país, bem como em análises antropológicas e sociais, pesquisas sobre comunicação, mídia e cultura, contribuições dos Estudos Culturais, teorias do jornalismo, estudos de telejornalismo, e amparada, especialmente, em obras dos seguintes autores: Florestan Fernandes, Thomas Skidmore, Lilian Schwarcz; Amilca Araújo Pereira, Joel Rufino dos Santos, Nancy Fraser, Teun A. Van DIJK, Stuart Hall, Roger Silverstone, Muniz Sodré, Marialva Barbosa, Liv Sovik, Rodrigo Miguel Alsina, Felipe Pena, Beatriz Becker, Iluska Coutinho e Arlindo Machado.
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ROBERTA ANTUNES CHRYSOSTOMO DE AVILLEZ
A Imigração e a Jornada do Ser Divergente
Orientador: Marcos Dantas Loureiro
Resumo: Esta tese de doutoramento consiste de uma busca por compreender a forja da identidade do jovem imigrante brasileiro em New York. Inicialmente buscou-se refletir sobre o que é o conceito de ser estrangeiro a partir do diálogo de Platão, O Sofista, e propor uma teoria que relaciona a jornada do estrangeiro com o que foi chamado de Jornada Dionisíaca. A hipótese associa à representação do estrangeiro neste diálogo como um ser em busca pela pertença dentro de uma comunidade, no caso a busca do imigrante. A partir desta percepção da interpretação da teoria da Jornada Dionisíaca, faz-se uma costura das as influências platónicas na construção de diversas teorias de migração.
Em seguida, busca-se perceber o questionamento identitário na própria forja da identidade brasileira. Para, a partir de então, voltar-se aos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos e especificamente em New York. Também busca-se compreender as particularidades que conferem os Millennials e Centennials no Brasil. E como eles se diferencial das mesmas gerações nascidas e criadas nos Estados Unidos. Assim como as particularidades de serem filhos de imigrantes brasileiros criados ou nascidos, no caso, residentes em território estadunidenses. Esta análise constitui-se de três hipóteses diluídas nas seguintes possibilidades: da 2a geração de imigrantes brasileiros ter se tornado assimilada à identidade e cultura estadunidense, com menor identificação à identidade e cultura brasileira; de jovens adultos possuírem um “sonho de Alice” ao invés de desejarem “fazer a América”; de jovens não-documentados terem a possibilidade de serem transnacionais e transculturais. Por fim, a percepção de Estudos da Comunicação como originalmente sistémica e interdisciplinar em sua própria formação, permite que investigações como esta sejam feitas. Esta investigação foi elaborada por meio do método bola-de-neve, com base em diversos núcleos distintos para a realização de entrevistas em profundidade. Sua metodologia é apresentada em mais detalhes no capítulo 04.
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WILSON DE OLIVEIRA NETO
O “Misterioso” Álbum 3.1.8.36.7.: fotografia e história no contexto da Segunda Guerra Mundial
Orientadora: Victa de Carvalho Pereira da Silva
Resumo: Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) foi um conflito militar internacional em que a Comunicação foi importante para os esforços de guerra dos países beligerantes. Em especial, o material fotojornalístico, que foi fartamente distribuído à imprensa como forma de propaganda de guerra tanto pelos aliados quanto pelo Eixo. O objetivo desta Tese é examinar esse tipo de documentação como um meio para o estudo das relações entre a Comunicação e História, através da Segunda Guerra Mundial. Para isso, foi analisada uma coleção de material fotojornalístico sob a guarda do Arquivo Histórico de Joinville – AHJ, organizada em um álbum de fotografias com 440 imagens. A metodologia empregada consistiu na descrição, na identificação e na contextualização histórica das fotografias por meio de revisão bibliográfica e do estudo de outros documentos históricos acerca do conflito, como jornais e revistas. A Segunda Guerra Mundial ocorreu durante o auge do fotojornalismo, cuja linguagem influenciou na forma com a qual os fotógrafos engajados nas forças combatentes registraram o conflito. Como material de propaganda de guerra, as fotografias exageraram o poder militar dos seus respectivos países, assim como seus recursos humanos e suas lideranças, ao mesmo tempo em que desqualificaram e ridicularizaram seus inimigos. Contudo, após o término do conflito, tornaram-se fontes históricas, cujos conteúdos ganharam peso de verdade, sendo imprescindível seu exame crítico, inclusive, como uma forma de repensar as próprias histórias oficiais da Segunda Guerra Mundial.

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WILSON ROBERTO MILANI BERNARDES
As gráficas clandestinas do PCB: anticomunismo e ação repressiva do Estado
Orientador: Mauricio Lissovsky
Resumo: Esta tese analisa a repressão exercida pelo Estado sobre as gráficas comunistas durante períodos históricos de ditadura no Brasil. Três episódios são aqui mobilizados, dois ocorridos durante a vigência do Estado Novo (1937-1945) e um, durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Influenciados pela retórica anticomunista, DOPS e DOI-CODI promoveram ações sistemáticas contra o aparato de imprensa do PCB, resultando na prisão de militantes gráficos e dirigentes, no confisco de material de propaganda e no desmantelamento dos locais de impressão. Eram nesses “aparelhos” que ideias consideradas “subversivas” e “perigosas” se materializavam em boletins, jornais, livros e revistas, que depois ganhariam o espaço público no trabalho de Agitação e Propaganda (“Agitprop”) do partido. Nos casos analisados, o “estouro” de uma gráfica representava tanto uma “medida de profilaxia social” direcionada ao “vírus esquerdista”, impedindo que ele continuasse a “contaminar” a sociedade, o Estado, os lares das famílias brasileiras etc.; quanto uma vitória contra a “guerra psicológica” dos comunistas, parte indissociável de sua revolução social. A oposição ao PCB se dava no esforço de atenuar os efeitos sociais de seu discurso político. A relevância do aparato gráfico era reconhecida não só pelos agentes da repressão, mas também pelos comunistas. Prevalecia entre a militância do PCB o entendimento de que sem uma máquina para rodar jornais e panfletos o partido não poderia fazer o seu trabalho revolucionário. Prova convincente disso é que, uma vez concretizada uma operação repressiva de grandes consequências, o partido estabelecia como uma de suas prioridades o “levantamento” de uma nova oficina gráfica.
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Eco.Pós - Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ - O Curso - Histórico
REVISTA ECO-PÓS
v. 26 n. 02 (2023)
Visualidades: estéticas, mídias e contemporaneidade
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