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TESES DE DOUTORADO // TESES EM 2021 |
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ANDRÉ HALLAK MARTINS DA COSTA CAMILO GUIMARÃES DE OLIVEIRA |
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Documentário, Artes e Instalação: um estudo a partir dos artistas Cao Guimarães, Eder Santos e Lucas Bambozzi |
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Orientador: André de Souza Parente
Resumo: A relação entre as artes vem se estreitando na contemporaneidade. Esta tese investiga uma conexão em especial, entre cinema, documentário e instalação, passando pelo vídeo, pela videoarte e pela interlocução entre imagem e movimento e o campo das artes. Três artistas mineiros que já fazem esse constante trânsito irão permear essa reflexão: Cao Guimarães, Eder Santos e Lucas Bambozzi. Para se criar essa conexão são retomadas as linhas que colocam o vídeo como um importante meio de passagem do cinema para as artes através de pesquisadores como Raymond Bellour, Anne-Marie Duguet, Phillipe Dubois e André Parente, mas também através da história dos três artistas que guiam a pesquisa. Dentro desta conexão destaca-se o elemento documentário como presente no trânsito entre cinema e artes desde seus primórdios, mesmo que essa presença tenha sido ocultada da sua história por alguns de seus realizadores e pensadores. A reinvenção do espaço artístico é evocada a partir de Hélio Oiticica e de conceitos que atravessam a instalação e videoinstalação como a conhecemos hoje. Os trabalhos de Guimarães, Santos e Bambozzi contribuem para a ligação destes campos, para se pensar em tempo e espaço nas instalações, e também para a abertura para novos campos. Através de questões pertinentes ao momento atual mundial em função da pandemia do Coronavírus, e de outras questões que vêm desde antes, convoca-se o leitor e os artistas para se pensar no espaço imagético possível das produções de cinema em 360º. |
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ANNÁDIA LEITE BRITO |
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Estéticas dos Interstícios: histórias, dispositivos e tempo entre as imagens fixas e em movimento |
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Orientador: Antonio Pacca Fatorelli
Resumo: As passagens entre as imagens fixas e em movimento são a linha central dessa pesquisa, que tem como objetivos apresentar as histórias de seus acontecimentos no Brasil e na cidade de Fortaleza; analisar obras que se encontram nesse campo e investigar as relações temporais implicadas nessas alterações profundas das construções hegemônicas da forma cinema (PARENTE, 2011) – configuração da imagem em movimento como narrativa representativa de tecnologia de projeção em sala escura – e da forma fotografia (FATORELLI, 2013a) – imagem fixa como direta e instantânea. Esses dois termos foram criados pelos teóricos para ressaltar todas as outras possibilidades de experimentação imagética que sofreram tentativa de apagamento. Os objetos são os trabalhos artísticos A festa e os cães (2015), de Leonardo Mouramateus; A namorada do meu pai (2011), de Lara Vasconcelos e Luciana Vieira; Casa da fotografia (2010), de Themis Memória; Casa da Vovó (2008), de Victor de Melo; Eu posso ver o que você sente (2007), de Hugo Pierot; Flash Happy Society (2009), de Guto Parente; Fort Acquário (2016), de Pedro Diógenes; Monstro (2015), de Breno Baptista; proibido pular. (2012), de Lucas Coelho; Viventes (2014), de Frederico Benevides e 4000 disparos (2010), de Jonathas de Andrade. A metodologia é composta por investigação histórica a partir dos conceitos de híbridos em Latour (2013) e de paralaxe e efeito a posteriori em Foster (2014); pelo estudo dos objetos através do conceito de dispositivo em Deleuze (2016a); e pela análise das questões temporais, passando pelo conceito de entre-imagens (BELLOUR, 1997), pela taxonomia do cinema em Deleuze (2005; 2018) e pela formulação deleuzeana dos movimentos aberrantes (LAPOUJADE, 2015). Chega-se ao conceito de estéticas dos interstícios como composições variáveis entre o fixo e o movimento articuladas através de tecnologias mistas. A estéticas dos interstícios buscam não serem aprisionadas em temporalidades definidas e se esquivam de formas rígidas por meio dos desvios presentes nos dispositivos. |
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EDUARDO FELIPE WEINHARDT PIRES |
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Democracia e Internet, uma História de Esperança, Desencanto e Reinvenção: dez anos de trajetória do Meu Rio e do Nossas |
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Orientadora: Ivana Bentes
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo averiguar se e em que medida a trajetória da ONG Nossas permite vislumbrar novos ordenamentos políticos e arranjos sociotécnicos capazes de estabelecer outras dinâmicas estáveis de poder, idealmente carregando novas possibilidades democráticas, com formas alternativas de participação e representação. Com 10 anos de existência, o Nossas foi criado no Rio de Janeiro, com o nome de Meu Rio, e expandiu-se para outras cidades brasileiras, formando a Rede Nossas Cidades, até entender-se atualmente como um laboratório de ativismo. O foco da instituição é promover a participação dos cidadãos junto ao poder público pelo desenvolvimento de ferramentas digitais e novas estratégias ativistas. A história da organização serve, assim, como fio condutor para os quatro capítulos que estruturam este trabalho, ilustrando o desenvolvimento das ideias e ideais que a motivaram e modularam, assim como os eventos históricos que marcaram sua trajetória. O primeiro capítulo busca recuperar condições que determinaram a emergência do Nossas, tratando das expectativas e esperanças sobre os impactos que a internet teria sobre a sociedade, de sua consolidação como ambiente de produção coletiva e também traçando um breve histórico dos movimentos ciberativistas até 2011. No entanto, se estamos fazendo referência a um desejo por transformação, há que se ter claro o que exatamente se quer transformar. Assim, o segundo capítulo delineia o processo de formação do modelo de democracia liberal representativa, suas fissuras e as alternativas a ele propostas. O terceiro capítulo dedica-se a indicar como o ideal de multidão inspira e ajuda a entender o desenvolvimento do Nossas e também detalha os impactos das Jornadas de Junho em 2013 no país. Se até esse ponto a atmosfera política era dominada por uma certa esperança e acreditava-se estarmos iniciando um processo de aprofundamento e intensificação de práticas democráticas frente às insuficiências do modelo liberal representativo, o quarto capítulo traz o desencanto, com o crescimento da extrema direita no mundo, em particular no Brasil, e as presentes ameaças totalitárias ao regime democrático, especialmente à democracia brasileira. Por fim, com base na análise das diversas experiências desenvolvidas pelo Nossas, proponho repensar a representação como experiência democrática. |
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ELISA RODRIGUES MAIA PIQUET PESSOA |
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Estátuas, Manequins, Bonecas: o corpo feminino eviscerado na literatura e nas artes visuais |
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Orientadora: Beatriz Jaguaribe de Mattos
Resumo: Este trabalho é animado pela intenção de lançar um olhar minucioso para um material estético da literatura e das artes visuais que explora de forma engenhosa a proximidade e a contiguidade do corpo feminino com três de seus simulacros, a saber, a estátua, o manequim e a boneca. Com base nestes três tropos, busco empreender uma reflexão sobre quais sentidos, desejos e angústias estão sendo transfigurados nas fabulações visuais e literárias que exploram esta proximidade inquietante, tentando perceber o que estes corpos femininos imaginados têm a nos dizer. Desterritorializados entre os domínios do animado e do inanimado, do humano e da mercadoria (entre o sujeito e o objeto), tais simulacros habitam uma zona privilegiada onde é possível perceber núcleos temáticos e pressupostos políticos e culturais que atravessaram séculos e ainda encontram ecos em nosso tempo. A proposta é abordar cada um destes objetos em diálogo com um dos conceitos de fetiche – o antropológico, elaborado inicialmente por Des Brosses no século XVII, o mercadológico, idealizado por Marx no século XIX, e finalmente o erótico, tal como concebido por Freud no início do século XX. |
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FERNANDA BASTOS BRAGA MARQUES |
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Por Uma Montagem da Sensação: os vídeos de Brígida Baltar |
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Orientadora: Katia Valéria Maciel Toledo
Resumo: Por uma montagem da sensação: os vídeos de Brígida Baltar é o resultado da reflexão teórica sobre o processo de digitalização e organização do acervo audiovisual da artista brasileira Brígida Baltar, do qual participei como editora de várias peças novas, produzidas a partir do material recuperado. Para analisar os cerca de 50 vídeos que compõem essa videografia, recorremos a uma divisão baseada nas questões majoritárias das artes visuais, tais como corpo, casa, paisagem, experiência e poesia, de forma a contextualizar a obra em seu território. Enfocamos na montagem, com seus gestos e questões, como operação estruturante do fazer cinematográfico contido na produção audiovisual. Sempre respeitando a organicidade e a delicadeza características dessa obra intensamente ligada aos processos de criação. Além disso, identificamos pensamentos filosóficos consonantes com aquilo que a artista expressa em sua poética: um olhar mais horizontalizado para o mundo, maior integração com a natureza e atenção aos detalhes. |
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FRANCINE DA ROCHA TAVARES |
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O Amor Saudável e a Invenção Midiática da Mulher Neoliberada |
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Orientador: João Freire Filho
Resumo: Esta tese investiga as condições de possibilidade de emergência do amor saudável e da mulher neoliberada como, respectivamente, o ideal que se apresenta de modo a substituir o amor romântico e a subjetividade feminina correspondente a ele. Analisando os conteúdos sobre relacionamentos amorosos da revista Cláudia, no período de 1964 a 2018, a partir da concepção de discurso foucaultiana (FOUCAULT, 1995, 1996), identifico três bases constitutivas do fenômeno aqui pesquisado: a primeira é de que foi preciso haver uma problematização do amor como uma questão feminina para que a ruptura do amor romântico e a identidade da mulher dona de casa fosse inaugurada; a segunda é de que foi necessário destituir o sofrimento de desejo para que ele pudesse ser instrumentalizado no que nomeio como economia moral do sofrimento amoroso; a terceira é de que a popularização e a conjugação do éthos terapêutico (ILLOUZ, 2007, 2011; MOSKOWITZ, 2001) e do feminismo atribuíram à crença na autoestima feminina um poder inquestionável, direcionando o foco do amor para si mesma. Ao confrontar os enunciados amorosos da virada do século de Cláudia, em especial, observo o ressoar dos valores românticos, mesclados ao que Dardot e Laval (2017) chamam de razão neoliberal. Desse modo, defendo a tese de que a dupla amor saudável e mulher neoliberada atua na neutralização da categoria saúde, corroborando com o individualismo neoliberal nas relações pessoais e produzindo novas formas de regulação do comportamento amoroso feminino. |
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HEITOR LEAL MACHADO |
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Distopia Made In Brasil no Imaginário Contemporâneo: uma análise da série televisiva 3% - Três por Cento |
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Orientadora: Beatriz Becker
Resumo: Na contemporaneidade, vivemos em condições tão adversas que a perspectiva do tempo por vir se torna inexistente ou é negativada. Apesar das promessas integradoras de progresso, a frágil existência humana reitera medos e inseguranças de um cotidiano permeado por riscos de ordem social e ambiental. Nesse contexto, identificamos um imaginário distópico, que projeta futuros hipotéticos, especialmente em conteúdos midiáticos direcionados aos jovens. Nesta pesquisa, entendemos o imaginário como parte de uma dimensão sensível dos processos comunicacionais, que incide nos discursos, nas relações sociais e práticas culturais. Assim, pretendemos investigar como as narrativas que tratam de temas futurísticos se constituem em formas culturais abertas a críticas e questionamentos sobre a experiência, com amplo potencial crítico e político. Consideramos a distopia como um tipo de utopia que vislumbra um futuro por um viés negativo e que, a partir de questões do presente, estabelece formas estéticas e narrativas de imaginar o futuro, explorando situações que poderiam ter acontecido ou podem acontecer se a sociedade não permanecer atenta. Neste Tese, a distopia é compreendida como uma ação dupla, pois gera sentidos contraditórios de imobilização e de emancipação. A própria representação da ausência de futuro já se constitui como um alerta para o que podemos fazer para mudar um rumo dado como eminente. Para observar este fenômeno, escolhemos como objeto a série 3% - Três Por Cento. A obra, uma produção entre Brasil e Estados Unidos, é disponibilizada na Netflix, uma das empresas mais representativas das mudanças do ecossistema televisivo, marcado pela fragmentação das audiências e práticas distintas de produzir, distribuir e consumir TV. Este fenômeno reitera a importância da inventividade estética e do engajamento das audiências, e reforça a relação entre o meio e as sensibilidades na contemporaneidade. A série apresenta um futuro onde os jovens devem se submeter ao Processo, seleção que designa os merecedores de irem para o Maralto, ilha onde há vida digna. No decorrer da narrativa, são colocados em questão valores sociais da atualidade, como a democracia, os direitos individuais, justiça, liberdade, desigualdade, exclusão e meritocracia. Buscamos apontar os valores atribuídos à estas questões e entender como a juventude se relaciona com a obra, por meio da Análise Televisual de quatro temporadas e de um estudo de recepção com um grupo de fãs da série no Brasil. Observamos como o público consome, apreende e recircula aquilo que vê, mediante a aplicação de questionários com as audiências. Nossa intenção é investigar asrelações, as estratégias comunicativas e as interações entre produção e recepção e refletir sobre como o mundo contemporâneo é problematizado. Assim, identificamos como se constitui um imaginário, atravessado pelo medo e a violência, o estrangulamento das liberdades, a exacerbação da individualidade e da intolerância, em conflito com o ideário de um mundo melhor na atualidade. |
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LEANDRO JOSÉ CARMELINI FAFÁ BORGES |
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Microfísica do Controle: pistas de uma anátomo-política do ciborgue |
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Orientadora: Raquel Paiva de Araujo Soares
Resumo: Esta tese investiga a relação entre o corpo e o computador. Somando-se a contribuições de Michel Foucault e Gilles Deleuze, propõe sintetizar tal problema com o conceito de microfísica do controle. Duas hipóteses são defendidas. Em primeiro lugar, a de que os objetos técnicos digitais contemporâneos emergem da fusão de dois circuitos técnicos historicamente decisivos para a produção do corpo moderno: o circuito das tecnologias locomotivas e o circuito das tecnologias imagéticas. Tal embaralhamento tecno-corporal tanto enfraquece a cisão moderna entre dentros e foras, quanto cria condições para uma resolução cibernética deste enfraquecimento: por um lado, o arrefecimento do homem e, por outro, a modulação do homem no ciborgue. Em segundo lugar, defende-se a hipótese de que os computadores estão abandonando seu formato óculo-manual, preponderante desde os anos 1990, para tornarem-se objetos capazes de recobrir a superfície corporal. Apesar de o digital não ser verdadeiramente um espaço (um entre sem medida), ele está se tornando um meio no qual a experiência imersiva tende a tornar-se tão ou mais háptica que audiovisual, consequentemente, tão ou mais interventora que vigilante. Acredita-se que os vetores computacionais, sobretudo a partir da proliferação de smartphones nos anos 2000, realinharam-se a expectativas semelhantes àquelas do organismo cibernético gestadas em 1960 por Manfred Clynes e Nathan Kline: anseios que renascem contemporaneamente no interior do que Antoinette Rouvroy e Thomas Berns chamam de governamentalidade algorítmica e, como defendido aqui, na forma de uma anátomo-política do ciborgue. |
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LISBETH ARAYA JIMÉNEZ |
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Felicidade Instrumental em Organizações Cooperativas Costarriquenhas: entre a gestão individualista e o sentido cooperativo |
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Orientador: Paulo Roberto Gibaldi Vaz
Resumo: Esta pesquisa constitui uma crítica à felicidade como compreendida e exercida no âmbito do trabalho. Objetiva-se analisar a lógica da felicidade instrumental em um grupo de organizações cooperativas dedicadas à produção, industrialização e comercialização de café na Costa Rica. Além de discernir os obstáculos que dita lógica impõe ao trabalho cooperativo. Por felicidade instrumental, entendo aquela que serve aos fins produtivistas e consumistas próprios do capitalismo em sua fase neoliberal. Chamo-a de “lógica” no sentido foucaultiano de racionalidade, tentando dar conta da multiplicidade de processos econômicos, políticos, socioculturais e subjetivos envolvidos no seu desenho, mantenimento, promoção e naturalização. Afere-se assim sua presença, intensidade e magnitude. A presença evidencia as formas particulares que a referida lógica adquire nas organizações em estudo. A intensidade indaga se sua apropriação se encontra no nível do discurso, se tem atingido as práticas corriqueiras ou se está tendo efeitos inclusive na saúde física e emocional das pessoas trabalhadoras. Por outro lado, esta pesquisa interessa-se por conhecer a magnitude referente às três dimensões em estudo, isto é, às condições preexistentes, às características da felicidade contemporânea e a seus modos de externalização. Identificando presença, apropriação e abrangência foi possível apontar as barreiras que a lógica da felicidade instrumental impõe ao trabalho cooperativo. As perguntas que instigaram esta pesquisa foram, portanto: Está presente e tem sido apropriada a lógica da felicidade instrumental nas organizações cooperativas cafeeiras? Que formas caracterizam essa presença e que consequências está tendo sua apropriação na saúde das pessoas trabalhadores e no trabalho cooperativo? A partir de uma perspectiva política que ambiciona a transformação social – seja no nível que for –, existe um interesse e uma pergunta sobre as possibilidades do campo da comunicação de contribuir com a reflexão crítica da felicidade contemporânea, da subjetividade neoliberal e das práticas organizacionais correlatas. Considera-se uma potencialidade para tal, a filosofia das organizações do terceiro setor que procuram o desenvolvimento social além do lucro. Teoricamente, esta pesquisa a partir de um olhar socioantropológico aborda a compreensão crítica da felicidade apropriada e desenvolvida no campo da comunicação. Do mesmo modo, também apropria alguns pressupostos epistêmicos, políticos e ontológicos da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas Comunitárias. Metodologicamente, trata-se de um estudo transversal, de desenho misto e alcance descritivo-correlacional que utilizou como técnica de coleta de dados o questionário (612) e as entrevistas semiestruturadas (8), procurando ao mesmo tempo obter um mapa da percepção de felicidade dos trabalhadores e informação qualitativa sobre os processos organizacionais e subjetivos, vinculados a dita emoção. Os resultados sugerem presença da felicidade instrumental em todos os níveis estudados, com diferenças e tensões; alcançando particular força em relação ao trabalhador feliz e autorrealizado. Em termos de apropriação no discurso a felicidade instrumental está normalizada, por sua vez, as práticas pessoais obtêm as pontuações mais baixas, seguidas das práticas organizacionais. As decorrências a respeito dos efeitos superaram toda minha capacidade indutiva para evidenciar o estresse e a ansiedade como fatores fortemente presentes, especialmente o estresse, e correlatos às demandas individualistas de realização permanente no trabalho. Ter a magnitude se concentrando nas condições preexistes, assim como identificar uma associação (muito baixa) entre práticas e efeitos; sugerem uma perspectiva otimista para a mudança organizacional. Promover uma reflexão aprofundada e participativa a respeito dessa performance de um trabalhador individualista, todo poderoso e autorrealizado, que se perfila como a principal barreira ao trabalho cooperativo e à valorização do fazer coletivamente para o comum, é uma tarefa e um desafio para a comunicação organizacional. |
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LORENA LUCAS REGATTIERI |
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Algoritmização da Vida: o debate sobre Amazônia e incêndios florestais no Twitter em 2020 |
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Orientador: Henrique Antoun
Resumo: Esta tese investiga os aspectos do que defino como "algoritmização da vida" no campo da comunicação, abordando o Twitter como uma máquina de engajamento. Entendo "algoritmização da vida" como a engenharia computacional constituída por um conjunto de modelos algorítmicos usados para monitorar, avaliar e canalizar os fluxos de dados em sistemas complexos. Mais do que interromper ou bloquear os fluxos informacionais, argumento que a engenharia computacional baseada em agentes inteligentes adaptáveis desenvolve mecanismos para compreender ou prever o comportamento desses sistemas. Com foco nos efeitos da algoritmização da vida na comunicação da era digital, a pesquisa analisa as transformações tecnológicas e comunicacionais ao longo da história da propaganda que culminam na emergência de um ecossistema de propaganda participativa. Com uma metodologia de coleta, análise e visualização de dados baseada em métodos digitais, desenvolvo um protocolo de identificação de processos de manipulação e mobilização no Twitter que conta com o classificador de bots Gotcha (Twist Systems/Netlab UFRJ) totalmente treinado em português para esta pesquisa. No intuito de investigar os aspectos da algoritmização da vida no ecossistema de propaganda participativa, estabeleço como estudo de caso o debate no Twitter durante o período de intensificação dos incêndios florestais na Amazônia Legal em 2020. O contexto do debate público sobre a pauta socioambiental, Amazônia e os direitos dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais nos primeiros anos do Governo Jair Bolsonaro (sem partido) provocou reações no Brasil e no mundo. De 2019 a 2020, a linha do tempo de retrocessos da política ambiental brasileira esteve acompanhada pela apropriação crescente de recursos financeiros pelas Forças Armadas. Esse cenário remonta ao período da ditadura militar, quando os militares governaram o país e, através do uso da propaganda dentro e fora do Brasil, forjaram uma percepção bastante particular sobre a floresta e os povos que habitam o território da Amazônia Legal. A discussão teórica e os resultados empíricos indicam que, entre junho e outubro de 2020, passado e presente se encontraram nas novas configurações da disputa pela opinião pública, instrumentalizando o Twitter como máquina de engajamento. Por fim, as evidências da tese apontam como a operação de influência bolsonarista e militar #StopFakeNewsAboutAmazon manipulou as redes com propaganda conspiracionista e desinformação em massa, reagindo à mobilização do ativismo socioambiental e protagonismo dos povos indígenas na campanha cívica em defesa da Amazônia #DefundBolsonaro. |
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LOUISE FERREIRA CARVALHO |
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A “Onda” Literária: relatos de aprendizado no mundo das drogas (Quincey, Burroughs, Preciado) |
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Orientadora: Maria Cristina Franco Ferraz
Resumo: Entre os séculos XIX e XXI diversos novelistas, filósofos e cientistas ocidentais publicaram relatos sobre a autoexperimentação da “droga”. Em casos específicos, os protocolos de experiências apresentam as etapas de um aprendizado ritmado por movimentos de intoxicação e desintoxicação, em que a dosagem constitui um elemento vital. Tais manifestações, por sua vez, compõem um material fértil para realizar uma investigação sobre a droga como uma tecnologia de produção de subjetividades na modernidade e na contemporaneidade. Com esse objetivo na mira, este trabalho focaliza um personagem emblemático, colocado em cena pelos escritores-experimentadores mais radicais: o “dependente” da droga. A proposta é expor o nascimento, desenvolvimento e modificações desse modo de existência singular analisando alguns objetos concretos: as Confissões de um comedor de ópio (1821), do novelista inglês Thomas de Quincey; Junky (1953) e Almoço nu (1959), do escritor estadunidense William S. Burroughs; e Testo junkie: Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica (2008), do filósofo espanhol transgênero Paul B. Preciado. A persistência desse personagem histórico-cultural nos últimos dois séculos, bem como a sua insistência nas paisagens urbanas contemporâneas motivaram a construção da presente genealogia composta pelo “comedor de ópio”, o junkie ou “drogado” e o testo junkie ou “dependente da testosterona sintética”. O método genealógico adotado nesta pesquisa permite identificar a que interesses esses três modos de dependência da droga respondem nos regimes de poder e de saber moderno e contemporâneo, além de explorar em que sentido eles são capazes de incomodar a moral vigente em cada época e lugar. |
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PABLO GONZALEZ RAMALHO |
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História(s) do Cinema: programar, montar |
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Orientadora: Anita Matilde Silva Leandro
Resumo: A presente tese tem por objetivo analisar a montagem de História(s) do cinema (Godard, 1989-1998), mostrando que há, ali, uma lógica de programação de filmes, a exemplo do que Henri Langlois, fundador da Cinémathèque française, colocou em prática no seu trabalho pioneiro e transmitiu a Jean-Luc Godard, frequentador daquele recinto durante sua formação cinefílica. Reciprocamente, mostraremos que as programações de Langlois são verdadeiros ensaios de aproximação de obras do repertório cinematográfico, similares a procedimentos modernos de montagem, devido à forma como ele colocou em relação os filmes programados, se atendo ao conteúdo intrínseco dos planos das obras e não a categorias históricas, como gênero, país de origem, período, escola. Analisaremos o caráter investigativo do método histórico de Langlois, que revela as características próprias cada filme nas relações com os demais filmes de um mesmo programa, como misturas químicas de um laboratório, onde são estudadas as potencialidades dos elementos compostos. Nossa hipótese é a de que o modo langloisiano de abordagem dos filmes da história do cinema teria sido assimilado por Godard em sua prática de montador, particularmente nas História(s) do cinema, série, no entanto, montada segundo as regras clássicas. Como nas programações de Langlois, Godard relaciona conteúdos de planos de filmes, criando dramas visuais, por meio de raccords, como o plano/contraplano. Disso resulta uma apresentação da história do cinema como uma narrativa plural, aberta a interrupções, repetições e associações diversas, que inclui a história de seus próprios meios – a montagem e as imagens. Num retorno a experimentos inaugurais de escrita da história das artes com imagens, em vez de textos, notadamente Warburg e Malraux, a tese problematiza a concepção de montagem contida nas História(s) do cinema. A ideia de “montagens da história” (LEANDRO, 2013) é retomada, para desenvolver uma investigação visual da história do cinema, segundo Godard. Fundamentando-se em paradigmas visuais dos próprios filmes (semelhança, contiguidade, escala), a pesquisa rompe com a ideia de discursividade das imagens e evita submeter os filmes citados em História(s) do cinema a fundamentos da lógica e dos princípios de classificação (dedução-indução, causa-efeito, generalização-especificação). Se a historiografia do cinema, proveniente de uma espécie de explosão, começa por um interesse quase que exclusivo dos historiadores pela narração, privilegiando o encadeamento, em detrimento de associações múltiplas, ela termina como o estudo, mais ou menos difuso, do dispositivo cinematográfico, tomado como fenômeno sociocultural, político, econômico. Vinga, na historiografia, uma concepção da narrativa como essência do cinema – o Big Ben de sua história. Argumentaremos que, numa investigação visual da história, a montagem – e não a narrativa – é o próprio do cinema e, numa concepção ampliada, das artes plásticas, da ciência e da religião. |
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PEDRO PINHEIRO NEVES |
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Estátuas, Manequins, Cadáveres e Ciborgues: figurações do corpo glamoroso na fotografia de moda |
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Orientador: Denilson Lopes
Resumo: Ao longo da sua história, a fotografia de moda tem valorizado representações do corpo feminino que o aproximam de um objeto inanimado ou artificial: rígido, imóvel, pálido, liso, rosto sem expressão, formas contidas, poses antinaturais. Esta tese se debruça sobre quatro topoi encenados de forma recorrente na fotografia de moda que se relacionam comesse ideal corpóreo, cada um com sua constelação de significados simbólicos e fantasias associadas: a modelo como estátua, manequim, cadáver e ciborgue. Valendo-me das características do glamour (entendido como uma categoria estética vernacular) e de um arcabouço teórico que inclui história e teoria da arte e teorias feminista e queer como ferramentas de análise, investigo imagens feitas por fotógrafos canônicos dos anos 1930, 1940 e 1970 e por artistas drag do Instagram dos anos 2010. Deslocando leituras críticas que privilegiam a ideia de objetificação e violência patriarcal como chaves interpretativas, tento entender que outros discursos sobre gênero, corpo e sexualidade essas imagens podem sugerir a partir de uma perspectiva não-humanista, encarando a moda como tecnologia que desfaz identidade e aproxima o corpo da matéria inorgânica. |
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